Mais um vinte de tantos novembros que virão e ainda nada resolvido nas relações brasileiras com a escravidão de negros, prática estendida para todos os pobres de um modo geral.
Mais um vinte de novembro e eu aqui escrevendo mais uma crônica sobre o assunto longe de dizer que enfim, somos todos iguais, enfim prenderam quem mandou matar Marielle.
A igualdade entre humanos parece mesmo ser uma utopia a ser perseguida, uma utopia que dá sentido à vida daqueles que acreditam, como eu, que viver fica muito mais fácil e saboroso quando respeitamos nosso semelhante.
Semelhante. Palavra difícil nestes tempos distantes dos lançamento das idéias de Cristo. Se somos todos iguais perante a Deus, os humanos fazem questão de mostrar diariamente que não somos iguais perante a nós mesmos.
Pra quem foi criado sob os costumes da casa grande é muito difícil entender as expectativas de quem vive tentando fugir da senzala moderna na direção do paraíso de Palmares.
Essa fuga se realiza de várias maneiras e a cada dia a quantidade de “escravos fujões” só aumenta. Sim “escravos fujões”, é assim que o povo negro é visto por muitos racistas espalhados pelas instituições, pelo congresso, pelas escolas e universidades, pelos estádios de futebol, instalados nas polícias, no judiciário, nas repartições, nas empresas, no executivo e etc.
Enquanto esse “mi mi mi” for só nosso a luta continua. Quando for de todos os brasileiros o vinte de novembro será festa nacional com muita música, dança, comida, alegria, essas coisas que insistimos em praticar para o desespero dos “homens de bem”.
Alegria e bom humor, talento e competência, orgulho e fé, são nossas ferramentas preferidas no combate aos que insistem em nos impor o passado explícito na cor de nossas peles, mas essas ferramentas usamos o ano inteiro. Hoje vinte de novembro do ano de 2019, prefiro comemorar fazendo uma reflexão mais aguda, mais realista, nossos dias estão pedindo isso.
Os índices de violência estão aí mostrando qual camada da população é o alvo principal do preconceito. Os índices estão aí mostrando a disparidade das remunerações entre brancos, negros e mulheres.
Os índices que revelam a juventude negra assassinada nas periferias diariamente também estão aí pra denunciar um genocídio em marcha. As manifestações públicas de racismo saíram do armário e também estão aí junto com a intolerância religiosa, coisa da antiga.
Essa é uma ladainha nossa que se repete a cada vinte de novembro, a cada 13 de maio, desde o primeiro navio negreiro que aqui chegou até o noticiário contanto dos tiros dos helicóptero sobre as favelas.
Os mínimos avanços conquistados em doses homeopáticas não têm como voltar atrás, é verdade, e a cada brecha é mais um milésimo gol fazemos.
Neste vinte de novembro um fraterno beijo em meus amigos negros que a cada dia contribuem para a liberdade plena de nossa história. Neste 20 de novembro meu fraterno beijo nos meus amigos “brancos” que se esforçam sinceramente para entenderem nossa questão existencial num primeiro momento e, num segundo passo, se alinham à nossa luta. Valeu Zumbi!!!
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