Uma jornalista comentou comigo outro dia que costuma ler minhas crônicas emocionadas no meu blog cada vez que um amigo meu parte para o andar de cima.
Fiquei grilado com isso, afinal, não foi para lamentar a partida de meus amigos que eu criei um blog. Então neste dia resolvi que nunca mais escreveria quando um amigo meu morresse.
Putz! Mas quem morreu foi o Guilherme e aí não dá pra não falar nada porque ele tem tudo haver com os outros que partiram antes – Paulinho Albuquerque, Luiz Carlos da Vila e Ovídio Brito.
Meu orientador espiritual também me aconselhou a me desapegar dessa minha inconformação com morte. Acatei o conselho e dessa vez o tom não vai ser de inconformação. Será só tristeza, mas como o Guilherme era um cara de uma alegria confortadora, a alegria também estará presente neste meu lamento.
Situar o Guilherme Reis no plano profissional é fácil. Ele foi o melhor técnico de mixagem que conheci e tive o prazer de trabalhar. Premiado, era um artista no que fazia, herdeiro da arte de outros, entre eles, o Nivaldo Duarte lá da Odeon, que ajudou a muitos dos que estavam começando e o Guilherme era um deles.
Nós, músicos profissionais, que vivemos trabalhando nos estúdios de gravação, sabemos quem é quem nesta tarefa técnica de transformar o que tocamos em som compreensível quando se toca todo mundo junto.
Foram muitas as sessões que participei onde o Guilherme ou estava na mesa gavando ou então mixando. A voz da grande maioria de artistas brasileiros passou pelas suas mãos, de Xuxa a Milton Nascimento, de Chico a Djavan, o violão o Guinga, o bandolim do Hamilton de Holanda, minha voz e meu violão modéstia à parte, desde o primeiro disco que gravei em 1980.
São milhares de artistas em que o Guilherme colocou seu toque e tudo ficava mais bonito.
Houve uma época em que o Guilherme resolveu operar som de show. A barra tava meio pesada e lá fomos nós pra Bahia, junto com Paulinho Albuquerque Luiz Carlos da Vila, levados pelo Hugo Sukman e a Fundação Roberto Marinho para realizarmos um projeto lá. Inesquecível o mercado modelo no dia seguinte.
Meus Deus! São tantas as histórias, não vai dar nem pra começar.
Paulinho Albuquerque e eu nos tornamos sócios do Guilherme na deliciosa aventura que foi a Carioca Discos. Não fomos bem sucedidos como empresários, mas em compensação o nível de divertimento, de prazer, de amizade e militância cultural que tivemos, junto com Rodrigo e Rodrigão, não tem tamanho, e os que estiveram com a gente por lá no Estúdio Discover no Jardim Botânico e nos bares em volta, também vão se lembrar.
O Engenheiro Guilherme Reis antes tocava contrabaixo. A união de música e técnica estava ali o tempo todo quando ele dominava aquele protools como vi poucos fazerem.
O Gui era um cara de uma alegria só, onde a alegria terminava procurando ele também. Tinha coisas engraçadas que só aconteciam com ele.
Uma vez Claudinho e Bochecha estavam gravando e toda hora entrava um cara no estúdio e ficava beijando o Guilherme, acariciando. O cara voltava e aí o Guilherme é que ficava beijando o cara, abraçando, fazendo carinho. Até que numa hora o cara entrou e disse: tchau! Pai. Tô indo pra escola.
Lá no fundo ouviu-se aquele UFA! dos caras que já estavam pensando que o Guilherme era viado.
Guilherme era muito homem. Homem com habilidade para cozinhar muito bem. Homem com habilidade para fazer chochet só para relaxar a tensão. Segundo o Paulinho Albuquerque, ele havia prometido fazer um bag de crochet para o meu violão. Não deu tempo, né?
É assim que vai ser meus amigos. Rindo com as lágrimas nos olhos mando um beijo pro Lucas, filho do Gui e para sua família.
Pro Guilherme peço que dê um beijo nos parceiros que foram na frente. Mas, mais uma vez, vou logo avisando que vai ser ruim eu encontrar com vocês tão cedo. Quando eu renascer aí vocês já serão bem mais velhos do que eu e aí vão poder me ensinar o caminho das nuvens, ok?
Comentários
DEUZA AVELLAR'- CURITIBA-PR
Não conheci o Guilherme mas sei da importância dele.
Um abraço meu irmão.
Theo.
Beijo