Foto: Clóvis Scarpino
Em algum momento do final dos anos 70, se
nāo me engano (tenho que abrir todas as caixas de relíquias para conferir), eu,
Dalmo Castelo, Jorge Aragāo, Luiz Carlos da Vila e Wilson Moreira nos juntamos
para fazer um show.
A ideia surgiu nos inúmeros papos que tivemos
eu e o ator e diretor Haroldo de Oliveira, lá no Restaurante Amarelinho da
Cinelândia, quando passávamos horas tomando umas e debatendo sobre negritude,
racismo, politica, música, novelas e afins.
Viajamos tanto na maionese que começamos
até um projeto de montar um negócio de produtos de beleza para negros, na época
um pensamento totalmente absurdo, provocador.
Das muitas ideias que tivemos uma quase
realizamos que foi a peça “A cor da cor”, trocadilho inspirado na foto de Luiz
Murier publicada no Jornal do Brasil, onde um PM conduz um grupo de negros
presos na favela ligados um a um por uma corda no pescoço. Chegamos a ensaiar o
elenco que contava entre outros com o ator e depois compositor Bandeira Brasil.
Nāo conseguimos montar, mas realizamos
outros, como a peça “Oh! Que delicia de negras”, texto de Nei Lopes, musicas
minhas e direção do Haroldo lá no Teatro Rival.
O outro que deu certo foi o “Kizumba” que juntou
a galera que citei no início.
Ficamos em cartaz durante um mês fazendo um
show autoral num teatro de uma escola que funcionava no final da Praia de
Botafogo, perto do viaduto, acho que o “Asdrubal” andou por lá também. Se
alguém lembrar do nome do local me avisa.
O público foi meia bomba até que no último
dia do espetáculo saiu uma matéria bacana no Jornal do Brasil, a casa encheu e
resolvemos prorrogar a temporada.
Era um momento em que tudo estava começando
pra todo mundo. O hoje consagrado Sombrinha foi músico violonista de sete
cordas no show que contava ainda com
Milton Manhās e Mauro nas percussões.
Muita coisa boa aconteceu por lá neste
período em que Luiz Carlos ainda usava peruca e eu tinha cabelo Black Power. Uma
delas foi quando Wilson Moreira se atrasou para a apresentação. Show marcado
para às 21 horas e Wilson chegou às 23 horas.
Você deve estar pensando que começamos o
show sem ele, né? Nada disso. Choveu muito nesse dia e ficamos batendo papo com
a paciente plateia esperando pelo Wilson que foi aclamado na chegada. Fizemos o
show que acabou depois da meia noite com direito a saideira no Lamas. Detalhe,
nessa época nāo tinha telefone celular.
Sou obrigado a confessar que nestes tempos de cólera generalizada me faz um bem danado poder
ter um baú para futucar de vez em quando, quase me esconder por lá. Doce
refúgio, certamente diria Luiz Carlos da Vila.
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Vai contando que a gente vai lendo, gostando, aprendendo ...