Pular para o conteúdo principal

Pantera Negra

Fui assistir “Pantera Negra”. Gostei. Fiquei com a sensação, por enquanto, de se tratar de um filme de negros para negros.
Pode ser que no futuro seja um filme para todos, pelo menos no caso do Brasil. Para Todos,  por acaso, era o nome do cinema onde assisti meus primeiros filmes lá no Méier .
As referências ao tráfico negreiro, a religiosidade, a filosofia na relação com a ancestralidade, e a história do negro africano no mundo, são referências contidas no filme que funcionam muito bem pra quem é do ramo,  ou porque é negro, ou porque está ligado à religião de matriz africana. Só vendo pra sacar o que estou falando.
A idéia de que a salvação para as agruras dos negros espalhados pelo mundo virá da África, através de uma civilização detentora de avançada tecnologia, é fascinante, poética, um bálsamo para quem a vida toda viveu fantasias heroicas à partir da cultura dos colonizadores.
A indústria Marvel de cinema criou este super herói negro pra se juntar aos seus super heróis sempre brancos. Golaço dos produtores, diretores e atores. Imagino o efeito disso no universo negro infantil do mundo inteiro. De qualquer forma, como nada é perfeito, e pra não perder a viagem, um universo americano para o mundo, mesmo que negro.
Eu que já gosto de filmes de ficção científica, me surpreendi com o que vi. Fui para o cinema pensando em Malcon X, Panteras Negras, Angela Davis e, por incrível que pareça, eu os senti na tela e na trama. Até mesmo aquele debate sobre os papéis de Ganga Zumba e Zumbi no 
Quilombo dos Palmares, eu identifiquei nos personagens dos dois primos em conflito.
A idéia de uma civilização avançada escondida na África não é de todo uma fantasia, já que muitas  técnicas importantes, em vários setores, já eram dominadas pelos futuros escravos dos europeus.
Algumas passagens me chamaram muito a atenção e que são situações inimagináveis no Brasil onde os negros são maioria, ao contrário dos USA, origem do filme, onde negros são minoria.
Primeiro a supremacia do elenco negro, no mínimo uma experiência sensorial pra quem assiste o filme num  Brasil acostumado a supremacia de elenco branco. 
Depois a mistura do inglês com uma língua africana, nos dando o prazer de volta e meia ouvir um “babá”,  quando o herói conversa com o pai, com direito a uma trilha sonora poderosíssima.
Finalmente temos um herói americano pra chamar de nosso, já que a globalização está se confirmando inevitável, mas temos também a chance de uma reflexão sobre o “de onde viemos” “para onde vamos”. Qual o nosso papel no mundo? Quem sabe essas respostas venham no Pantera Negra 2, ou no 3 ou no 4, ou no ET cantado por Gilberto Gil. Aguardemos. 

Super herói é super herói e sonhar não custa nada. Enquanto isso, viva a gente! Viva o povo negro do mundo! Viva os negros do Brasil! Viva a cultura e símbolos da civilização trazida da África na marra em forma de tudo.

Comentários

Unknown disse…
Achei incrível o filme. Ele é carregado de significado. A história é muito interessante! É importante dizer que toda essa produção traz um roteiro incrível. O gráfico do filme é de cair o queixo, as cenas de ação são muito eletrizantes, os rituais simbolizando as tradições tribais africanas nos transportam para uma realidade totalmente diferente da nossa. Creio que pantera negra guerra civil é ótimo por suas atuações ótimas, como Michael B. Jordan, um vilão incrível. A forma como mesclam os efeitos visuais e a agregação do moderno com o antigo foi, sem dúvida, fantástico. Mal posso esperar pela continuação no ano que vem.

Postagens mais visitadas deste blog

E lá vamos nós mais uma vez. Dessa vez, Guilherme Reis.

Uma jornalista comentou comigo outro dia que costuma ler minhas crônicas emocionadas no meu blog cada vez que um amigo meu parte para o andar de cima. Fiquei grilado com isso, afinal, não foi para lamentar a partida de meus amigos que eu criei um blog. Então neste dia resolvi que nunca mais escreveria quando um amigo meu morresse. Putz! Mas quem morreu foi o Guilherme e aí não dá pra não falar nada porque ele tem tudo haver com os outros que partiram antes – Paulinho Albuquerque, Luiz Carlos da Vila e Ovídio Brito. Meu orientador espiritual também me aconselhou a me desapegar dessa minha inconformação com morte. Acatei o conselho e dessa vez o tom não vai ser de inconformação. Será só tristeza, mas como o Guilherme era um cara de uma alegria confortadora, a alegria também estará presente neste meu lamento. Situar o Guilherme Reis no plano profissional é fácil. Ele foi o melhor técnico de mixagem que conheci e tive o prazer de trabalhar. Premiado, era um artista no que fazia, herdei...

O Méier baixa na Lapa e leva o caneco

Ontem, 20 de janeiro de 2008, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, foi uma noite realmente especial para nós do Bloco dos Cachaças. Nascido de regados encontros no bairro do Méier, subúrbio carioca, na casa do casal Diniz (Mauro e Claudia), o bloco cresceu e passou a reunir uma galera em deliciosa feijoada domingueira num sitio em Jacarepaguá.. Passeio tipicamente suburbano e familiar, uma onda totalmente Muriqui ou Paquetá, que reúne músicos, jornalistas, sambistas, crianças, e boêmios de um modo geral, uma boa parte embarcados em vans vindas dos quatro cantos da cidade. Ao vencermos na noite de ontem o concurso de marchinhas da Fundição Progresso foi como a confirmação do batismo do Bloco feito por nossos padrinhos Zeca Pagodinho e Marisa Monte. O bloco dos Cachaças, enfim, saúda a imprensa falada, escrita, “blogada”, televisada e pede passagem. Pede passagem para no embalo de sua marchinha, “Volante com cachaça não combina”, engrossar esse cordão que cobra m...

Matura idade.

Enfim, faço sessenta anos neste 3 de outubro de 2009. Não são aqueles anos intermediários entre a juventude e o início do fim, tipo quarenta ou cinquenta. São sessenta anos, meus camaradas. Ao contrário do que eu mesmo poderia imaginar, não vou lançar CD comemorativo, não vou fazer show comemorativo de idade e não sei quantos de carreira, nem vou fazer nenhuma roda de samba. Também não vou receber os amigos no Bar Getúlio, como pensei em algum momento. Minha comemoração dos sessenta vai ser em família, fora do Rio, na calma. Vai ser desse jeito porque ao longo destes anos todos desenvolvi uma arte que aprendi com meu pai que foi a de fazer amizades e comemorá-las, frequentemente. Entre tantas que cultivei em todo esse tempo, além de minha mãe, duas não estão mais por aqui – Paulinho Albuquerque e Luiz Carlos da Vila. Um festão de sessenta anos sem eles, é choro meu na certa. Além disso, eu teria que estar com uma grana que anda meio fugida de mim, para não deixar amigo nenhum sem ser c...