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Caríssimo amigo e parceiro Aldir Blanc.


 Te escrevo pra relatar o delicioso sonho que tive nessa madrugada de noite de Sāo João. Em tempo: tenho muitas saudades das noites de junho lá na casa de minha Tia Ita em Nilópolis.  Eu, meu irmão, minha māe, meu pai, avô, avó e tia, todos no ônibus saindo do Cachambi com os comes e bebes, a vitrola portátil com os discos em 78 rotações com musicas juninas do Lamartine Babo. Chegando na estação do trem meu pai ainda agregava estrelinha, estalinho, busca-pé, morteiros 
e balāo japonês comprados na loja de fogos. Aí pegávamos outro ônibus e íamos para o interior, na casa de minha tia perto de um rio onde eu mergulhava com meus primos no verāo. Putz! Passado tanto tempo, e do jeito que as coisas estão,  nāo acredito que eu tenha vivido isso.
Voltando a vaca fria, como em todo sonho eu estava num lugar que nāo sei te dizer direito qual era. Parecia um playground de edifício no Méier, ou estacionamento de shopping, ou garagem de casa de subúrbio, nāo sei, só sei que era tipo de tarde, meia luz.
Eu estava viajando no meu smartphone (caramba, é a terceira palavra inglesa em poucas linhas) quando deparei com uma crônica sua publicada naquele dia no jornal. Eu ia lendo para minha patroa, mas com dificuldade, reclamando que seria melhor se estivesse impresso.
Você escrevia sobre os problemas que envolvem uma pessoa se separar de seu procurador, seu empresário, seu representante, alguma coisa nessa linha, mas era um texto saboroso, cheio de citações em latim e com aquele tipo de humor que te caracteriza.
Em determinado momento o celular sai de cena e sigo lendo o texto numa tela de TV de 52”, com mais conforto (rsrs). Ela era muito leve e a gente mexia nela acompanhando o texto pra frente, pra trás, ela caiu no chão, levantamos e continuamos a ler.
De repente saímos para a rua, de volta ao smartphone, para mostrar o texto pro Mello Menezes que estava sentado na direção da Van Filosofia.
Se você nāo sabe, a Van Filosofia foi uma maneira que inventei de driblar a lei seca. Vez em quando eu e Renata, Baiano, Hugo Suckman, Vivi Fernandes, Augusto Martins, Fatima Guedes, Gabriel Versiani, Felício Torres, Marcelinho Moreira e Dani, Paulo Figueiredo e sua patroa Monica, alugamos uma van e partimos para algum lugar distante para ver uma festa, um show, um restaurante, um museu, sem ter os problemas de dirigir na volta, já que por pura coincidência, todos nós enchemos a lata nestes momentos. O dia em que fomos ao Quilombo do Grotāo assistir o Carlinhos 7 cordas foi o bicho.
Mas então eu estava comentando com o Mello sobre a sua crônica quando apareceu o Nei Lopes com o jornal na māo. Perguntei: já leu a crônica do Aldir? E ele prontamente: Sim, mas estou lendo de novo.

Um cachorro latiu, eu acordei, escovei os dentes e estou aqui no computador te escrevendo essa missiva. Aceita um cafezinho? Acho que o sonho foi uma manifestaçāo de saudade de algumas  poucas coisas que vivemos juntos mas que foram marcantes pra mim. O Luiz Alfredo sabe como funciona isso, né? Vou te mandar uma melodia, ok? Beijos.

Comentários

Augusto Martins disse…
Salve Aldir Blanc e a van filosofia! Beijos!
Unknown disse…
O tipo de sonho pra confirmar o palpite. Jogar em que? Todos os bichos estão aí.
Parabéns e abraços Cláudio Jorge
Chico Salles.
Xico Flavio disse…
Claudissimo,
Belíssimo texto que ilustra sua maior qualidade: a simplicidade de jamais renunciar as suas origens. Apesar da sua qualidade notória em tudo que vc produz, nada transborda a sua simplicidade. Tenho orgulho de haver conhecido vc há mais de 40 anos. Seu filho - Gabriel - me parece haver herdado tudo de vc. Abração, amigaço.

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