E mais uma vez estamos aqui comemorando o 20 de novembro, dia da consciência
negra dedicado a data em que morreu o grande herói brasileiro Zumbi dos Palmares.
Escrevo essa crônica às vésperas de embarcar para a Serra da Barriga,
onde se localizou o Quilombo de Palmares, para atuar em show com esse militante
das causas negras, Martinho da Vila, um integrante do povo brasileiro.
Digo povo brasileiro com otimismo, pois, embora com avanços, ainda
estamos longe de podermos falar com consciência de causa “o povo brasileiro”,
porque até nossos dias, negros, índios,
brancos e imigrantes não estão suficientemente unidos neste sentimento.
O fim do tráfico de escravos, a lei áurea, as leis trabalhistas, a criminalização
do racismo e as atuais ações afirmativas, onde se destaca o sistema de cotas e
os programas de difusão da diversidade das nossas origens culturais, ainda não
foram suficientes para que os descendentes de escravos, por exemplo, sejam
plenamente integrados ao Brasil das oportunidades, da ordem e do progresso.
De um lado, é uma causa e luta permanentes de muitos negros, brancos e índios
para que esse objetivo seja alcançado, e de outro, a cada conquista se
estabelecem novos mecanismos que dificultam
essa integração social e racial. E quando não são mecanismos, são ações
diretas de preconceito, discriminação, ofensas e violência, principalmente
policial.
Os salários dos negros continuam sendo mais baixos que os dos
brancos. Os postos de atendimentos ao
público em bancos, balcões de aeroporto, recepção de hotéis, apresentadores
de jornais de TV, ancoras de programas,
comentaristas políticos e de economia, juízes, desembargadores, ministros, cargos
de chefia nas grandes empresas de comunicação e etc., etc., e etc., continuam
na sua grande maioria sendo ocupados por brancos. As exceções, são exceções,
não precisamos citar.
Nada contra aos brancos, muito pelo contrário, mas convenhamos que
somos todos filhos de Deus e Olorum, brasileiros de carne, alma e osso, com
direito a vida plena, já que nós todos temos as mesmas responsabilidades, direitos e
obrigações para com o Estado, sejamos negros, brancos ou índios.
Já no submundo da humanidade, os presídios têm maior quantidade de
negros, os hospícios também. Quero deixar claro que quando falo negro me refiro
a todos os que no Brasil não são vistos como brancos, por conta do tom da pele,
já que o papo de raça já era.
O Brasil está entre os primeiros países do mundo na lista de mortalidade
de negros jovens em relação aos brancos. De 2001 a 2010, enquanto a morte de jovens brancos no país
caía 27,1%, a de negros crescia 35,9%. Só em 2010 foram 35.000 negros mortos no
país. (De acordo com o estudo A Cor dos Homicídios no Brasil, feito
pelo coordenador da área de estudos da violência da Faculdade Latino-Americana (RJ) o
pesquisador Júlio Jacobo
Waiselfisz)
Segundo Júlio “Os números deveriam ser preocupantes para um
país que aparenta não ter enfrentamentos étnicos, religiosos, de fronteiras,
raciais ou políticos. Representam um volume de mortes violentas bem superior ao
de muitas regiões do mundo, que atravessaram conflitos armados internos ou
externos”. (Retirado do site Agência Brasil (EBC), matéria da repórter Karine Melo)
Então
que venham os 20 de novembro e que a cada crônica anual sobre o assunto eu
possa escrever cada vez menos sobre os problemas e cada vez mais sobre as
soluções que irão surgir, quando ficar resolvido definitivamente que os
descendentes dos escravos negros africanos têm direitos e deveres plenos de
cidadãos do Brasil e aí, finalmente, seremos o “Povo Brasileiro” com direito a
toda a unicidade que essa expressão nos possa revelar.
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