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MANÉ DO CAVACO.


Hoje o Programa Garimpo na Rádio Nacional presta homenagem a Mané do Cavaco.

                                          Mané do Cavaco no Botequim do Martinho


OI! Uí! Ou então, “ah! moleque fundo”! Eram os bordões preferidos dessa grande figura conhecida como Mané do Cavaco. Tive a oportunidade de trabalhar com este botafoguense em várias ocasiões , mas principalmente quando integrávamos o grupo que acompanhava o João Nogueira. Estivemos juntos no Chile e em várias capitais brasileiras e a alegria de viver, e a audição de memoráveis chorinhos, eram garantia quando se estava na companhia do Mané do Cavaco.
Era um instrumentista de estilo próprio e um grande compositor também. Entre as suas várias atuações em discos de grandes cantores destaco o arranjo que ele fez para a música Devagar Devagarinho, gravação de Martinho da Vila, com o próprio Mané do Cavaco ao cavaquinho
Me lembro de duas passagens do Mané que quero relatar aqui pra vocês.
A primeira quem me contou foi o Martinho da Vila. O famoso músico brasileiro, sucesso nos USA, Sérgio Mendes, ficou impressionado quando viu o Mané tocando com o Martinho da Vila.
Foi ao Martinho e pediu para ser apresentado ao Mané, queria mesmo convidá-lo para uma temporada nos States.
O Martinho levou quase a noite toda tentando convencer o Mané a ir até a mesa do Sérgio Mendes. Mané nāo tava nem aí, como era do seu feitio, para a fama do Sérgio Mendes nem com a possibilidade de sair da Mangueira para viver nos Estados Unidos.
Depois de muita insistência do Martinho, o Mané cedeu, foi até o Sergio Mendes e aí travou-se o seguinte diálogo.
- Sergio esse é o Mané do Cavaco que você queria conhecer.
- Oi Mané, como vai? Adorei você tocando.
E o Mané.
- Obrigado. Boa noite. Pronto Martinho já falei com ele. Posso embora? E se mandou mesmo.
O outro fato eu presenciei. Estávamos em Curitiba, Projeto Pixinguinha, João Nogueira e Cartola, e um amigo endinheirado do João nos convidou para um jantar. Reuniāo chique. O nome do anfitrião vinha estampado nas garrafas de vinho, entre outras ondas mais.
Depois de bebermos alguma coisa e umas entradinhas o jantar foi servido.
O dono da casa perguntou ao Mané.
O crioulo, tu já comeu foundie? O Mané, meio intimidado respondeu que nāo.
Aí o cara engrossou.
- É claro que nāo,  essa é uma comida da Suíça.
Aí o Mané rapidamente respondeu:
- Ah! então já comi sim. Já fui a Suíça seis vezes.
O indelicado ricaço, por acaso, nunca tinha ido, e o resto da festa ele teve que aturar o João Nogueira encarnando nele com a resposta do Mané.
Meu último encontro com Mané do Cavaco foi em 2012, durante as gravações do Sambabook do João Nogueira, onde também reencontrei Joel do Nascimento.
A saudade dos dois era grande e foi inevitável uma roda de choro no quintal do estúdio. Você pode conferir esse encontro assistindo a este DVD.
Ele tocando Carinhoso do Pixinguinha é bem bonito também (http://youtu.be/2nBd04xtr7M)
Uí!

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