Igual ao meu Botafogo, Oscar
Niemeyer foi um campeão desde 1907, ano em que nasceu. Nasceu aqui nas Laranjeiras, em boa família. Jogou no juvenil Fluminense, foi boêmio, tocava cavaquinho, não acreditava em Deus, tornou-se
comunista e um dos maiores arquitetos de todos os tempos.
Os jornais e televisões estão ressaltando as obras que projetou
para vários lugares do planeta. Falam de
projetos que não conseguiu ver em pé, como o Museu Pelé, e chamam a atenção pela sua preferência pelas curvas, em detrimento dos ângulos retos, muito por conta de
sua inspiração nas curvas femininas.
Em uma das muitas chamadas na televisão ouvi ele sintetizar a vida numa única palavra: solidariedade.
Quando o Oscar (como o Chico
Buarque se referiu a ele, anunciando sua presença na plateia no mais recente show
do cantor no Vivo Rio) nasceu, a abolição da escravatura no Brasil havia sido assinada há apenas 19 anos. A sensação deve ser parecida como alguém que nasceu no ano em que foi eleito o primeiro
presidente negro americano e essa pessoa vá viver os mesmos 104 do Niemeyer até 2112.
Solidariedade é palavra meio fora de moda nestes
tempos de juros altos, mendigos agredidos nas ruas, tráfico de mulheres, de drogas, de
armas. Tempos de poluição, desmatamentos, corrupção em níveis inacreditáveis e a rapidez das mudanças tecnológicas que acontecem em gigabits
de velocidade.
São tempos bem diferentes daqueles em
que nasceu o nosso querido arquiteto e que, na minha modéstia opinião,
começaram a se deteriorar com o golpe militar de 1964.
Golpe que atingiu vários amigos de Oscar, mas que ele,
muito por conta de sua notoriedade mundial, conseguiu se proteger.
Hoje pela manhã me emocionei com a cena da entrada
do caixão no avião da FAB.
Mais um brasileiro apaixonado pelo
Brasil brasileiro tira o time. Mais um brasileiro apaixonado pelo novo, pelo
diferente, pelo ousado nas artes, se manda.
Oscar Niemeyer viveu inacreditáveis 104 anos, tempo que ele
precisou para consolidar no mundo sua preferência pelas curvas e exercer em várias situações a solidariedade humana.
Minha jovem patota boêmia, hoje na casa dos sessenta,
perde um de seus ídolos, um cara que até bem poucos anos atrás tomava seu vinho e fumava uns
charutos no papo com os amigos. Em 104 anos, poucos anos são como poucos dias, né?
Uma coisa no noticiário da Globo me chamou a atenção: eles disseram que Niemeyer era
comunista e amigo pessoal do Fidel Castro. Não chamaram o Fidel de ditador, nem
o "comunista amigo pessoal do Fidel Castro", soou como crítica, mas sim como uma condição humana normal, sem nenhum problema.
O Brasil seria bem melhor se a Globo se comportasse desse jeito em relação a qualquer brasileiro. Tá bom. Niemeyer não era um brasileiro qualquer,
apesar de sua imensa simplicidade.
Então, no embalo da TV Globo eu digo: Viva Oscar Niemeyer! Um brasileiro
comunista, que não acreditava em Deus, amigo do Fidel Castro, do Juscelino, do Brizola e
do Darcy Ribeiro.
PS: Eu acredito em Deus e nāo sou comunista, mas respeito profundamente o direito que as pessoas têm de serem o que quiserem em suas vidas, principalmente quando elas o fazem com a grandeza que fez o Oscar Niemeyer.
Comentários
Beijo, Irmão.
Neste texto ao grande ícone, você construiu uma das mais simples e comovente despedida ao eterno BRASILEIRO (com letras maiusculas. Seguramente um de seus mais belos sambas de todos os tempos.
Não a toa somos irmãos, em Fé, Esperança e Solidariedade.
Você sempre me deixa orgulhoso da amizade.
xF