Não tem jeito. Eu também sou tiete
do Chico

Aí 2012 começa com o novo Big
Brother, com direito a suspeita de estupro e outras baixarias mais; o
maior canal de televisão do Brasil compra os direitos do festival de
pancadaria travestido de “esporte formador de caráter”, o UFC; o
mesmo canal abre finalmente os braços para o mercado fonográfico
religioso, a música de sucesso nas paradas fica martelando “ai
se eu te pego” e três edifícios desmoronam no Centro do Rio de
Janeiro causando vitimas.
Cheguei até a escrever uma crônica
onde eu falava das minhas causas que eu considerava perdidas. Além
do Botafogo, falava do direito autoral, da profissão e do mercado de
música no Brasil, do racismo e por aí vai. Mas aí desisti de
publicar. O pessimismo é um sentimento rejeitado por todos os
níveis, desde o religioso, até o idealista, o psicanalista, o
financeiro e etc.. Estava quase publicando a bad crônica no
meu blog quando cheguei a conclusão que o pessimismo só deve
ser praticado em ato de solidão e quando você já estiver
satisfeito, sai da toca para o mundo com aquele sorriso nos lábios
praticando o positivismo nas suas relações sociais e de trabalho.
Neste processo, meu amigo Wilson das
Neves me convida para assistir ao show do Chico Buarque onde ele é
um dos destaques, e aí meu amigo, confirmei que ainda existem muitos
motivos para continuarmos otimistas em relação a cultura brasileira
neste momento em que tudo o que é nacional é colocado no fundo do
quintal e o que é global ocupa o espaço da casa grande.
Quero deixar bem claro que estou
aproveitando o show do Chico para me referir ao mundo dos grandes
espetáculos, dos grandes eventos, dos grandes negócios na indústria
da música. Estou me referindo as grandes produções apoiadas pelos
grandes meios de comunicação e capazes de mobilizar o gosto popular
na formação de platéias.
Porque no plano menos favorecido do
acesso ao público, o exército de batalhadores é grande e de
qualidade inestimável espalhado por todo o Brasil em plena atividade
mas , na sombra.
O grande barato do imperdível show
do Chico é a coerência artística que ele revela. Além das músicas
do novo disco, alguns sucessos antigos terminam por compor um pequeno
painel do universo de composição do Chico Buarque, onde lá estão
contemplados vários ritmos brasileiros, harmonias e melodias
cuidadosamente trabalhadas, além de uma literatura em forma de letra
de música, espetacular. Além disso uma gritante demonstração do
Chico que não tem a menor intenção de se acomodar no óbvio
estético, e que não está nem aí para as exigências do mercado,
feito um cara que conheço chamado Martinho da Vila.
O show do Chico é um recital, muito bem iluminado, belo cenário, sem
grandes efeitos, sem bailarinos, sem fumaça no palco, onde o assunto
principal é a música. Não que eu ache que todo grande show tem que
ser assim, mas alguns shows poderiam ser assim, não custa nada.
Percebe-se que todo o trabalho é muito bem planejado e ensaiado,
levando-se em consideração os limites que o artista realmente tem
no que se refere a sua presença no palco.
No final, o jeito tímido do Chico
ocupa todo e espaço e termina por contagiar uma platéia de forma
arrebatadora, que canta junto as músicas do disco novo, mesmo elas
não tendo execução nas rádios.
O novo ano que se inicia está salvo.
Espero que eu não tenha que esperar mais cinco anos pelo novo disco
do Chico para curtir estes momentos que curto agora.
Quanto ao Botafogo, vamos ver como a
Estrela Solitária vai se comportar em 2012.
Comentários
abraço, Leandro.
Como diz Millor Fernandes: "Nascer estadista em país subdesenvolvido é como nascer com um tremendo talento de violinista numa tribo que só conhece a percussão."...Ser pessimista é quase um atestado de inteligência, ao menos o Botafogo vai humilhar alguém e nos dar alegrias no fim...rs! ( Hoje descobri mais um ato de atrocidade alvi negra: Um torneio em comemoração aos 80 anos de glórias do "Framengo", vulgo: Combinado das favelas, foi vencido por quem?, pelo Fogão, o troféu está lá em General Severiano....Resumindo: Só Chico Salva.
Cabral
Abração, Cesar