Pular para o conteúdo principal

Ficou ruim até pro Papai Noel






Minha mensagem de natal deste ano de 2011 vem através de uma histórinha contada pelo meu amigo Carlinhos 7 Cordas, um dos maiores violonistas do Brasil.
Me orgulho de muitas coisas da minha carreira de músico, mas por uma tenho um carinho particular. Eu e meu parceiro Nei Lopes fomos os responsáveis pelo Carlinhos 7 Cordas se tornar um músico profissional. É um daqueles péssimos conselhos que se dá, mas que no final dá tudo certo. Carlinhos estava na Marinha numa promissora carreira de fuzileiro naval e volta e meia ele chegava do quartel quando nós estávamos ali na Rua Jorge Rudge em Vila Isabel no pagode “Corre pra sombra”. Era uma roda inventada pelo Nei que começava pela manhã com as mesas colocadas na beira da calçada. O sol vinha vindo e a mesa ia fugindo pra sombra até terminar no fim da tarde embaixo da marquise do botequim do português.
Belos momentos vivemos ali onde o Nei apresentou vários de seus sucessos de carreira em primeira mão. Me lembro do Paulinho Albuquerque levando o Gilson Peranzzetta e um outro músico americano para conhecer a parada.
Pois bem, o Carlinhos 7 cordas chegava em casa, tirava a farda, pegava o violão e ia pra roda. Ficávamos ali mandando todas e o Carlinhos já desde cedo tocando bem pacas quando falamos pra ele largar aquela idéia de ser militar e abraçar a profissão de músico. Foi ótimo, tornou-se o artista que conhecemos e agora mais recentemente tem brilhado também na produção de discos.
Carlinhos me contou há pouco tempo uma história sobre o seu sobrinho,  moleque levado nos seus seis anos de idade que tava dando o maior trabalho em casa e na escola. A irmã do Carlinhos pediu uma ajuda ao irmão, um cara sério, que impõe moral, pra dar uns conselhos pro garoto e um puxão de orelhas, se fosse o caso.
Carlinhos atendeu prontamente a convocação, chamou o sobrinho prum papo e começou:
-    - Ô meu sobrinho. Que que tá havendo? Tua mãe veio falar comigo que você tá aprontando muito na escola, não está obedecendo ela, a professora também tá reclamando. Isso não pode ser assim não. Criança tem que se comportar direitinho, escutar os mais velhos, respeitar os coleguinhas, estudar bastante pra ter um futuro legal. E tem outra coisa, tá chegando o Natal. Papai Noel não vai trazer presente se você continuar a se comportar desse jeito.
O menino interrompeu o tio e mandou com maior bico:
-    - Tio, que saber de uma coisa. Eu quero mais é que Papai Noel se fôda!
Bom, depois dessa só me resta dedicar a todos um Feliz Natal, com ou sem Papai Noel.  Vou deixar como trilha sonora dessa história essa obra prima que é a canção “É Natal”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, faixa do disco “Natal de Samba”, produzido por Paulinho Albuquerque para a gravadora velas em 1999.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Valeu Zumbi!!!

Valeu Zumbi!!!! Com este grito encerramos na madrugada do dia 20 o show feito em homenagem a Luiz Carlos da Vila promovido pela Prefeitura de Nova Iguaçu. Milhares de pessoas na praça, dezenas de artistas amigos do Luiz, todos cantando e se emocionando, mesmo fora do palco. Tudo do jeito dele, com muita alegria, samba e cerveja gelada. Valeu Zumbi, saudação cunhada pelo Luiz no samba enredo da Vila Isabel de 1988, deve estar sendo gritada muitas vezes por este país afora nestas comemorações do dia da Consciência Negra. Neste momento em que escrevo estou em Mauá, São Paulo para atuar num show de praça, integrando a banda do Martinho da Vila, numa comemoração deste dia de graça. Gostaria de escrever aqui algumas coisas relativas ao assunto. Estou sem tempo, mas não posso deixar passar em branco este dia sem dizer que sou a favor das cotas, que o racismo no Brasil é muito louco por ser um país de miscigenados, que as lutas para acabar com o preconceito e a descriminação não deveriam ser l

Matura idade.

Enfim, faço sessenta anos neste 3 de outubro de 2009. Não são aqueles anos intermediários entre a juventude e o início do fim, tipo quarenta ou cinquenta. São sessenta anos, meus camaradas. Ao contrário do que eu mesmo poderia imaginar, não vou lançar CD comemorativo, não vou fazer show comemorativo de idade e não sei quantos de carreira, nem vou fazer nenhuma roda de samba. Também não vou receber os amigos no Bar Getúlio, como pensei em algum momento. Minha comemoração dos sessenta vai ser em família, fora do Rio, na calma. Vai ser desse jeito porque ao longo destes anos todos desenvolvi uma arte que aprendi com meu pai que foi a de fazer amizades e comemorá-las, frequentemente. Entre tantas que cultivei em todo esse tempo, além de minha mãe, duas não estão mais por aqui – Paulinho Albuquerque e Luiz Carlos da Vila. Um festão de sessenta anos sem eles, é choro meu na certa. Além disso, eu teria que estar com uma grana que anda meio fugida de mim, para não deixar amigo nenhum sem ser c

O Méier baixa na Lapa e leva o caneco

Ontem, 20 de janeiro de 2008, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, foi uma noite realmente especial para nós do Bloco dos Cachaças. Nascido de regados encontros no bairro do Méier, subúrbio carioca, na casa do casal Diniz (Mauro e Claudia), o bloco cresceu e passou a reunir uma galera em deliciosa feijoada domingueira num sitio em Jacarepaguá.. Passeio tipicamente suburbano e familiar, uma onda totalmente Muriqui ou Paquetá, que reúne músicos, jornalistas, sambistas, crianças, e boêmios de um modo geral, uma boa parte embarcados em vans vindas dos quatro cantos da cidade. Ao vencermos na noite de ontem o concurso de marchinhas da Fundição Progresso foi como a confirmação do batismo do Bloco feito por nossos padrinhos Zeca Pagodinho e Marisa Monte. O bloco dos Cachaças, enfim, saúda a imprensa falada, escrita, “blogada”, televisada e pede passagem. Pede passagem para no embalo de sua marchinha, “Volante com cachaça não combina”, engrossar esse cordão que cobra m