Enfim o estado, através de suas
polícias municipais, estaduais e federais chegaram a favela da
Rocinha no Rio de Janeiro, uma das maiores da América do Sul, dando
prosseguimento ao projeto de pacificação das favelas da cidade.
Até aí, ótimo. O crime não
compensa e a destruição em massa de jovens através do consumo e
tráfico de drogas é um dos maiores desastres da modernidade no
mundo. Só não vamos imaginar que a humanidade, em qualquer lugar do
planeta, vai ficar livre do crime, pois isso faz parte do ser
humano, a possibilidade de ser criminoso. Pode ser uma questão
de índole, do meio onde vive, de oportunidade, ou das
circunstâncias da vida que terminam levando uma pessoa pra onde
nunca imaginaram que estariam. É o caso de alguns famosos bandidos
que conhecemos ao longo dessa história que começou lá atrás no
período da colonização.
A associação do ser humano favelado
com o crime é uma das maiores covardias de todo este processo que
vem se aliar ao preconceito social, ao preconceito racial e a
discriminação.
Quem mora na favela necessariamente
não é criminoso e sim vítima de no mínimo três algozes: o
tráfico, a ausência do estado e mais recentemente as milícias.
Por conta dessa falta de
sensibilidade do restante da sociedade em relação a estas pessoas,
quando se fala em favela fala-se exclusivamente crime, valas,
“gatonet”, construções em áreas de risco e por aí vai. No
entanto há um lado humano, artístico e cultural importantíssimo
que as TVs brasileiras, com todo o poder que têm e as novas
condições de acesso geradas pelas UPPs, poderiam mostrar e prestar
um belo serviço a todo o Rio de Janeiro, a todo o Brasil, a todo o
mundo, enfim. A favela também é o espaço do humor, do amor, das
artes, do afeto, da solidariedade, da alegria, da consciência, da
superação, da beleza e etc. Nas oportunidades que tive de subir a
Mangueira, o Morro dos Macacos, a Rocinha e o Vidigal, encontrei tudo
isso por lá.
Torcemos para que os atuais governos
tenham, no mínimo, a ambição de colocarem seus nomes na história
e promoverem a revolução social que é a transformação das
favelas em bairros habitáveis, com direitos e responsabilidades dos
que lá vivem e com a presença do estado daqui pra eternamente.
Igualzinho aqui em baixo, onde nós,
os chamados cidadãos, com direito a saneamento básico, luz, gás e
água encanada quente e fria, também somos vizinhos de muitos
criminosos, não é mesmo?
O Estado não pode mais nestes tempos
de internet entregar a Deus o destino dos que tiveram que subir o
morro por falta de condições de viver aqui embaixo. Ele tem a
obrigação de tornar as favelas habitáveis porque isso vai ser bom
para todo mundo. Como disse um morador da Rocinha, quando ele
compra feijão, arroz e um monte de outras coisas ele está pagando
imposto igualzinho a todo mundo. Então tem direitos.
Que venham os direitos, deveres e as
outras responsabilidades. Tenho certeza que o povo da favela está
pronto a exercê-las. Chegarem até aqui enfrentando a barra
que enfrentaram é uma prova de força, esperança e fé, e tudo isso
deve ser motivo de orgulho para todos os brasileiros.
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