Desde cedo que tenho um prazer especial com as festas juninas. Elas sempre foram marcantes em várias etapas de minha vida, mais do que o carnaval ou as outras festas que acontecem anualmente.
Esse meu envolvimento com as festas de São João começaram na infância, lá em Nilópolis, onde morava boa parte da família de minha mãe. Minhas tias Ita, Leone e Amilêda, minha avó Praxedes. Meu tio João e meus primos também me vêm à lembrança entre tantos outros. Outra parte da família vinha de Mesquita e a todo ano a gente se reunia em torno da fogueira, naquele friozinho de junho para dançar ou curtir a música tocada na vitrola, entre elas, esse mesmo disco do Lamartine Babo que acabamos de curtir, só que na época a vida ainda não lhe tinha feito tantos arranhões.
O cheiro do carvão e da pólvora, o céu estrelado e um dedo ou outro queimado pelas estrelinhas nos faziam a felicidade. Era uma época em que eu vivia num universo de sítios, roças, banhos de rio, as primas morenas, os pés de goiaba, manga, bananeiras, canjica, batata dôce, roupas de caipira, chapéu de palha, bigode de carvão, quadrilhas e os fogos Caramuru, comprados por meu pai e meu avô no caminho da roça, na Avenida Mirandela, na estação de trem de Nilópolis.
O tempo foi passando, vieram as festas juninas no Cachambi com seus magníficos e perigosos balões. Vieram as festas nos colégios que freqüentei, as festas nos bairros onde morei no Rio de Janeiro e um dia me vi nas festas juninas do nordeste. Foi na época em que trabalhei com Mestre Sivuca e com ele viajei pelo sertão brasileiro com minha guitarra acompanhando a sua incrível sanfona.
Garanhuns, Campina Grande, Souza, Recife, Natal, Aracajú, Caruaru e Itabaiana, sua terra natal, foram algumas das dezenas de cidades que tive a oportunidade de conhecer através dele, e muitas delas durante o São João.
Sivuca e Luiz Gonzaga são Deuses no nordeste e quando chegavam nessas cidades eram recebidos com muito carinho. De uma dessas recepções não me esqueço, mas me esqueci o nome da cidade, coisas da idade. Era uma festa de São João com show ao ar livre, e do caminho do hotel até o local da apresentação, fomos curtindo a emocionante visão das fogueiras acesas em frente de todas as casas das ruas. Aquele enorme céu estrelado do sertão, sem edifícios, e o cheiro de lenha queimando tomando conta do ar. Inesquecível.
Quando chegamos ao local do evento fomos levados para uma residência de família que nos serviria de camarim. Foi um choque que me deixa até hoje de água na boca. Uma mesa farta com todas as comidas típicas das festas juninas. As bebidas, nem te conto. Entramos pra tocar os forrós do Sivuca totalmente envolvidos no melhor clima das festas juninas do nordeste brasileiro.
E aí o tempo foi passando e me vi numa cidade do interior de Portugal, dessa vez em mais uma viagem com Martinho. Uma apresentação também em praça pública toda enfeitada pra noite de São João. Não tenho certeza, mas acho que foi em Viseu. O cheiro da lenha queimando estava lá. As comidas típicas nas barracas me lembraram Garanhuns. O céu estrelado era o mesmo de Nilópolis e o jeito de dançar era muito parecido com o das quadrilhas lá na casa da avó do Kiko Horta em Botafogo.
As festas juninas realmente fazem parte do meu prazer e agora estou me preparando para a próxima que será no dia de dez julho lá no Casarão Austregésilo de Athayde. É a festa junina d’Os Vizinhos, grupo de amigos artistas moradores de Laranjeiras. Tem tudo: música, quentão, comidinhas e uma quadrilha que no ano passado foi brilhantemente comandada pelo jornalista Xico Teixeira. Estou louco pra chegar dia dez e matar um desejo que me acomete na hora que estou escrevendo essas linhas: comer uma prato quente de canjica. Anarriê. Viva São João.
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