Praça Orlando Silva no Cachambi
Essa crônica foi publicada na edição de ontem, 23 de fevereiro, do Jornal O Povo. Hoje eu tive tempo para dar um incrementada e publicar aqui no blog.
Outro dia, num desses tempos que eu fico em frente ao computador, recebi um email onde estavam relacionados vários bairros cariocas e suas histórias. Fiquei chateado porque na lista não constava o Cachambi, bairro onde eu fui criado e morei até os vinte e oito anos de idade.
Aí saí viajando pela internet procurando informações sobre o bairro e encontrei uma pesquisa de estudantes de urbanismo da PUC baseada no bairro do Cachambi.
Fiquei todo vaidoso, porque lá fiquei sabendo que, de acordo com o censo de 2033, não sei como está agora, o Cachambi era um bairro com uma população predominantemente jovem, com maioria feminina, com baixo índice de mortalidade infantil, mas com uma alta longevidade em relação à cidade, com uma média de 69 a 72 anos.
Fiquei sabendo através dessa pesquisa que a palavra Cachambi vem de “CAÃÇAMBY “, que significa “feixo” ou “laço que amarra capim”. Na fazenda do Capão Bispo, que ficava na área, se produzia feno e capim, e usavam um laço para amarrá-los, daí surgiu o nome, que aportuguesando virou CAXAMBY e depois CACHAMBI.
Meu avô, o jornalista Canuto Silva, de sacagem, dizia pra mim e para o meu irmão que o nome Cachambi veio com a invasão dos franceses que batizaram o local com o nome de Cachambú, mas como eram franceses falavam Cachambi. É mole?
A viagem até a minha infância foi inevitável e comecei a me lembrar dos amigos, das festas juninas, dos carnavais, da inauguração da Praça Orlando Silva (morador do bairro) e de tudo que me levou a ser o suburbano que eu sou, embora já não more no subúrbio há trinta e três anos.
Esse é um estado de espirito que carregamos com a gente, estejamos em Ipanema ou Nova York, e foi lá no Cachambi que aconteceram meus primeiros encontros com a música. Primeiro com o samba, que eu via desfilar da varanda do apartamento em que eu morava na Rua Miguel Cervantes. De lá assisti os desfiles da Inferno Verde e da Morro Azul. Recentemente conversando com o Mestre Monarco ele me falou que a Portela foi madrinha do Morro Azul, que beleza!
No Cachambi foi onde eu conheci Jorge Santos, violonista do regional do Waldir Azevedo que atuou em várias gravações importantes do Waldir, desde o choro “Pedacinho do Céu até o nosso hino nacional popular que é o Brasileirinho.
Eu o via tocar nas reuniões que meu pai realizava nos fins semana. Muito rango, cerveja e música o dia inteiro e ele tocava de um jeito que me influenciou muito na minha maneira de executar no violão.
No Cachambi eu assisti a maravilhosa Leny Andrade cantar nas festas da igreja e volta e meia eu esbarrava na calçada com o trombonista Raul de Barros (Devagar com o andor que o Raul também é de Barros). Gutemberg Guarabira morava no Cachambi quando foi vencedor do festival com a sua “Margarida” e o César Fome, o primeiro animador cultural que eu conheci, organizou uma tremenda torcida que foi até ao Maracanãzinho dar uma força ao Gut.
Luiz Alves, esse grande músico carioca, um mestre do contrabaixo, também foi criado no bairro e o Adauto Magalha, autor de vários sucessos gravados pro Alcione, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, também é de lá.
Por volta dos meus vinte seis anos, já me aventurando pelo resto da cidade, fui encontrar no bairro vizinho, o Méier, com Hélio Delmiro e depois João Nogueira. Que bom que eles estavam ali tão pertinho do Cachambi.
Então meus amigos é um prazer dedicar essa minha colaboração ao jornal “O Povo” ao bairro onde eu fui criado.
Deixo aqui um abraço aos meus velhos amigos Alexandre Ribeiro, Chico Medina, Primo, Roberto, Davizinho, Didico, Edinho, Fernando Chorão, Foleado, Altair, Faísca, os irmão Ricardo e Reginaldo, Betinho do Balão, o já citado César Fome, Césinha (meu colega nos Pequenos Cantores da Guanabara), Barata e os outros tantos que não me lembro agora.
Foi com essas pessoas, com o violão nas esquinas do IAPC do Cachambi, que eu tive minhas primeiras conversas sobre a música carioca, e brasileira, de um modo geral. Inté.
PS: No próximo dia 28 de fevereiro o Programa Garimpo estará apresentando um especial sobre o bairro do Cachambi, iniciando uma série de programas dedicados a música dos bairros cariocas.
Comentários
Entrei pra fazer uma pesquisa sobre o bairro, pois hoje trabalho com o Luiz Antonio Guaraná, Sec. Chefe do gabinete do Prefeito e tenho algumas responsabilidades com diversos bairros da Zona Norte incluindo o nosso bairro de coração...nasci ali, na antiga rua c, hj Velinda mauricio da Fonseca e tambem conheci algumas pessoas citadas pelo senhor, tais como:betinho do balão,davizinho, barata e outros. sem falar do campo do cometa, que por la passou muitos meninos bons de bola...
não sei se chegou a conhecer meus pais, Ricardo cabelão, musico e a marta jane...bom deixa eu voltar ao trabalho , pois ainda estou na Prefeitura e hj tenho duas meninas lindas e muitas saudades do tempo em que ficava nas calçadas das ruas brincando de queimado, policia e ladrão e futebol no paralelepipedo...
forte abraço e foi um prazer ler seu depoimento.
Att,
Ricardo Soares
rasoares77@hotmail.com
Confesso que foi por acaso que abri(no bom sentido)o seu blog. Estava procurando informações sobre o grande jornalista Canuto Silva, seu avô, que eu conheci na Redação do Diário da Noite. Eu era muito jovem, acho que tinha 14 anos, e seu avô já era um jornalista consagrado na imprensa. Era estudante e meu pai Revisor do jornal. Lembro muito bem do rosto e até da voz do teu avô, nordestino arretado ferrenho mas muito brincalhão. Gostaria de ver fotos do teu avô. O chargista LAN fazia grandes caricaturas do Canuto que era personagem quase que diário nas páginas do matutino verde.
Muito prazer, sucesso no seu blog e um grande abraço de
Nelio Horta (nehorta@gmail.com)
Um clic de sonhos para você!
http://blogimoveisdosonho.blogspot.com.br/2013/11/casa-de-3-quartos-com-1-suite-no.html
Inferno Verde !!!! Os ensaios aconteciam na Miguel Ângelo, próximo ao Conjunto do BNH e, lá de casa, ouvia as marcações das baterias.
Nossa, muita saudade,
Humberto Cardoso
Excelente saber que ex-moradores e moradores fazem referencias culturais ao bairro do Cachambi,eu,também como morador,estou envolvido em projetos de revitalizações culturais deste bairro e,apresentei,em 2002,um projeto a prefeitura objetivando a desapropriação,resgate e restauração de ex-cine teatro cachambi,localizado na Rua Cachambi 345,para transformá-lo num Centro Cultural Popular,com inserção e participação das escolas públicas,onde os alunos terão aulas de canto,música,danças,teatro,cinema,exposições etc...O projeto está aprovado e se transformou no processo 01003036/2002 e,o respectivo imóvel foi tombado culturalmente em 2014 pela prefeitura.Também encaminhei em 2005 um projeto ao Governo do Estado para restaurar a Casa do Capão do Bispo,localizada na Av. Dom Hélder Camara 4675,para também transformá-la num Centro Cultural Popular.O projeto tb. está aprovado na Secretaria do Estado de Cultura.Um abraço a tds. os moradores.
Rubens Quintella
Este blog , inclusive, doi compartilhado na nossa página em uma rede social pelo conteúdo absurdamente informativo, esclarecedor e criativo.
Afinal, conhecimento e afeto sõa as duas coisas que se não se divide se perde.
Parabéns pelo blog, estou seguindo e desejo muito sucesso!
Abraços fraternos,
Vi Meidim
Segue o link da página Voz do Cachambi para os que se interesarem em colaborar:
https://www.facebook.com/cachambipedesocorro