Ontem foi uma terça feira muito
interessante deste início de 2018, o ano que vai decidir o futuro do Brasil.
Pela primeira vez fui convidado a
participar de um encontro de artistas e intelectuais com o Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, lá no tradicional Teatro Casa Grande.
Achei engraçado eu nāo ter me atentado antes para o peso simbólico do nome daquela casa de espetáculos. Afinal, da casa grande saiu toda a história da dominação da senzala, mas ao contrário da casa grande, o Teatro Casa Grande sempre foi o espaço das demandas da senzala. Contradição igual a do restaurante chic em Sāo Paulo chamado Senzala, que pode ser visto como um espaço de demandas da casa grande.
Achei engraçado eu nāo ter me atentado antes para o peso simbólico do nome daquela casa de espetáculos. Afinal, da casa grande saiu toda a história da dominação da senzala, mas ao contrário da casa grande, o Teatro Casa Grande sempre foi o espaço das demandas da senzala. Contradição igual a do restaurante chic em Sāo Paulo chamado Senzala, que pode ser visto como um espaço de demandas da casa grande.
Mas o dia ontem foi interessante porque
na correria esqueci o celular em casa, pra completar, fui ao evento sozinho, e
os poucos conhecidos que por lá encontrei sentaram em lugares diferentes.
Entāo fiquei só, sem nenhum tipo de
interferência, sem filmar, sem fotografar, sem selfs, sem conferir as redes,
sem papear, entregue aquela imersão no mundo da esquerda petista ansioso para
ouvir Lula de pertinho pela primeira vez.
Com o Tomás Miranda entoando à capela “Senhora de Liberdade”, de Wilson Moreira e
Nei Lopes, o evento seguiu com a explanação de um advogado sobre o processo que
condenou Lula em primeira instância. Queiram ou nāo queiram, todo o processo é
um absurdo, um tremendo nonsense, uma aberração em relação as leis, ao
comportamento do judiciário e a Constituição.
O Teatro Casa Grande virou senzala ao longo
dos discursos que se seguiram, com a consolidação do pensamento de que o maior
problema brasileiro, daqueles que nós mesmos podemos resolver, passa pelo entendimento da herança da
escravidão de negros africanos e o racismo vigente no Brasil naturalmente
decorrente desse processo. Esse pensamento nunca foi tāo claro na esquerda como
agora e eu me lembro de velhos militantes negros do passado insatisfeitos com
a postura antiga.
Essa nova postura foi ontem veementemente confirmada nāo só pelas
negras empoderadas Elisa Lucinda, Conceição Evaristo, MC Martina, mas também pelo Chanceler Celso Amorim, com
todas as letras.
Do encontro de ontem saí com a confirmação
da certeza que já tenho, desde que me entendo por gente, que o órgão que sempre
atrapalhou, por vários motivos, por vários métodos, a melhoria das condições da maioria do povo e
a soberania do país é a TV GLOBO e seus
tentáculos, claro que com os parceiros atuais da casa grande.
A imensa senzala disfarçada que é o Brasil
de hoje, nunca será o Brasil do amanhã enquanto o poder da mídia nāo for
regulado. Que se copie o modelo americano, como gosta tanto de fazer a casa
grande. Este é um dos motivos pelo qual o PT foi apeado do poder.
Entre vários discursos brilhantes, eu destaco o de Elisa Lucinda, concordo com
tudo, inclusive com a sua afirmação de que Lula foi o Presidente mais preto que
conseguimos até aqui. A fala de Márcia Tiburi, por propor uma militância menos
rancorosa, com a qual também concordo. O do Gregório Duvivier, que teve a
coragem de confessar que nāo sabia se iria votar no Presidente, irá depender de
que tipo de alianças Lula irá fazer, mas que estava ali defendendo o direito de
se disputar a eleição.
Com esse último, infelizmente nāo concordo.
Ainda nāo há no Brasil condições de uma única corrente assumir o poder sem que
se faça algum tipo de acordo com Deus ou o diabo na terra do sol. É utópico
pensar que mesmo com toda a esquerda reunida em torno de Lula, haja condições de se
ocupar o poder pelas vias democráticas, pelo voto, pela liberdade de expressão
que vale para todos os matizes, pelo caminho da paz, pelo respeito a lei, sem
que se faça alianças com alguns setores. É o que temos pra hoje. Ou se vota em
Lula sem nenhuma dúvida pra Presidente em 2018 ou viveremos o amargor de um
mané qualquer assumir o poder e ver
perpetuado por décadas o desastre que o golpe está nos impondo agora.
Como sempre, o discurso de Lula foi mais
uma catarse, uma confirmação de seu poder de oratória mesmo nos assuntos mais
espinhosos. Destaco a comparação que vez
associando o golpe a uma cirurgia. A anestesia (as mídias e o mau uso da Lava
Jato) foi aplicada (o golpe) no paciente (o povo, o PT) e o efeito só agora
começa a passar.
Saí do Teatro Casa Grande feliz com o que
vi e ouvi. Nāo fosse eu prezar tanto minha independência, pensaria em me filiar
ao partido que mais cresceu sob o ataque
da mídia e do judiciário.
Saí de lá também com a esperança renovada
de que a esquerda ainda vive um
aprendizado e o novo golpe faz parte dele.
Lula encerrou mandando uma mensagem: “Estou no jogo”. É isso. O campeonato nāo
acabou. Dia 24 de janeiro tem jogo. Entāo joga o jogo jogador, estaremos no
banco.
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