Onze de outubro
aniversário do genial Cartola.
Me vem à lembrança uma
viajem pelo saudoso Projeto Pixinguinha em 1977, o primeiro ano do projeto.
Cartola e João Nogueira eram os artistas, eu, Ronaldo Albernaz (flauta/sax),
Mané do Cavaco, Cuscus, Agenor de Oliveira e Milton Manhāes (percussões), os músicos.
Fiz aniversário no dia
três de outubro e o Cartola me deu um vidro de perfume de presente. Na semana
seguinte foi o aniversário dele, então passamos essa semana da viagem nesse
clima de festa. A viagem toda foi em clima de festa, afinal estávamos viajando
com o festeiro e talentosíssimo João Nogueira e com Cartola, o cara que
escolheu as cores da Mangueira, que compôs “As rosas não falam”, “O mundo é um
moinho”, e ao lado da esposa foram protagonistas de um templo do samba chamado
ZiCartola. Além disso, tivemos o privilegio de ouvir algumas inéditas nos
ensaios, entre elas, “Autonomia”.
A viagem foi um misto
de trabalho e observação do comportamento desse personagem. A oportunidade de ouvir
suas histórias e o seu pensamento sobre a vida, sobre o mundo, como a resposta
que deu ao ser perguntado como se sentia com o sucesso na maturidade, ao que
respondeu que estava gostando, mas iria gostar mais se tivesse acontecido aos
trinta anos, não teria passado por tantas que passou.
Nāo me lembro o dia
exato em que conheci Cartola pessoalmente, mas me lembro bem do dia em que fui
acompanhar João Nogueira num programa pra televisão lá no Tijuca Tênis Clube.
João me chamou num canto junto com o Cartola e pediu pra ele mostrar a música
nova que tinha feito, “As rosas nāo falam”. Foi uma porrada. Naquele dia eu nāo
poderia saber, infelizmente a vida é assim, que décadas depois eu estaria
cantando essa canção como participação especial no disco da cantora japonesa
Nanami, o que aconteceu agora em primeiro de outubro de 2017. Me lembrei muito
dele nessa hora, um delicioso reencontro no mês de outubro.
Participei de outra
viagem com Cartola pelo Projeto Pixinguinha, no ano seguinte, dessa vez ele
dividindo o palco com Carlinhos Vergueiro e Claudia Savaget. Eu, Edson Alves (violão e flauta), Afonso Machado
(bandolim/cavaquinho), Ronaldo Albernaz (sax/flauta), Milton Manhāes, Trambique
e Claumir Jorge (percussão), músicos.
Dessa viagem me lembro
do dia de folga na praia de Guaxuma, em Alagoas, lugar paradisíaco na época, nāo
sei como está agora. Recordo das várias homenagens ao mestre e a Dona Zica pelas
dez cidades que passamos, principalmente em Sāo Paulo, onde uma joven fā mandou
uma carta pro Cartola deixando bem claro que nāo era uma carta de fā, mas uma carta
de amor de mulher por homem. Cartola envaidecido leu a carta no camarim e no
restante da viagem essa passagem era sempre lembrada, principalmente por Dona
Zica.
Durante minha
convivência com Cartola fizemos uma boa amizade. Visitei-o algumas vezes na
Mangueira e depois em Jacarepaguá, no curto período em que morou por aqui.
Da amizade surgiu a
parceria em duas canções que carrego com muito orgulho e carinho. “Fundo de
Quintal”, com letra de Hermínio Bello de Carvalho e “Dê-me Graças Senhora”,
samba em feitio de oração, que nesta data do aniversario de Cartola quero
dedicar ao mundo, ao Brasil e particularmente a Cidade do Rio de Janeiro, terra de Cartola, que está
passando por um sufoco danado vítima da
corrupção, da violência e da intolerância
religiosa. Que essa prece seja ouvida
por aqueles que estão precisando de reza.
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