Acordo neste dia 2 de outubro de 2016 com a expectativa do meu
encontro daqui a pouco com uma urna eletrônica. Lá estarei com um indisfarçável
sentimento de babaca porque há poucos dias atrás vi meu último voto ir pro
ralo.
Apesar do sentimento lá estarei mais uma vez para praticar o
“sufrágio universal”, o “ato cívico”, a “responsabilidade cidadã” e “mudar o
país através do meu voto consciente’, numa conjuntura onde muitas das vezes o eleitor é pressionado a votar em quem nāo quer para impedir a eleiçāo do inaceitável. Estarei presente neste encontro com a urna, afinal, ainda tenho em mim aquele Brasil
que parece estar chegando ao fim onde a esperança era a última que morria.
Acordo neste dia 2 de outubro de 2016 mais uma vez indignado com o
baixo nível a que chegaram os meios de
comunicação no Brasil. A “grande matéria de utilidade pública" nestes dias pré eleições municipais foi que a Presidenta
deposta sem crime e eleita com cinquenta
e quatro milhões de votos Dilma Roussef, teria “furado a fila do INSS” para se
aposentar”. Já vi que muitas serão as aspas neste meu texto.
Num esforço desesperado para nāo me envolver com este nível de
coisas, nāo vou defender a Presidenta. Ela é adulta e sabe fazer isso muito
bem, como vimos pela TV.
Mas a reflexão inevitável que chego, antes mesmo de tomar o primeiro
gole de café, é que para o “sistema” (na minha juventude a gente usava muito
essa palavra para explicar as coisas) pessoas como José Dirceu, Palozzi, Dilma
e Lula estāo condenadas à morte. Nāo aquela morte politica, mas morte mesmo, no
sentido de perder vida. Como ainda nāo existe pena de morte no Brasil, o
“sistema” vai tentando outros métodos como a “tortura psicológica” ou o
incentivo diário para que algum maluco no meio da rua faça um atentado. Já aconteceu em Goiás.
O “sistema”, nāo satisfeito com o golpe, segue agora numa perseguição
pós golpe, numa tentativa de garantir que essas pessoas e suas ideias
“subversivas” nunca mais retornem ao poder, ao contrário dos países
desenvolvidos onde as ideologias se alternam através do voto.
O “sistema”, aliado a ideias religiosas fundamentalistas
disseminadoras de ódio, preconceito e intolerância com o diferente, estāo
acabando a passos largos com o Brasil que a República forjou. O golpe de 16 é
um marco divisório. Se o golpe de 64 foi
uma “caça aos comunistas”, o de agora é “uma caça aos brasileiros”.
Amanhã, dia em que envelheço mais um ano, vai ser outro dia e outras
ações do “sistema” virāo junto com ele. Virāo lá de Curitiba, lá de Brasília, de São
Paulo ou de Washington.
Acordo neste 2 de outubro de 2016, praticando meu vício matinal de
passear pela internet, (antigamente eu levava o jornal pro banheiro. Novos
tempos, nāo leio mais jornais) e dou de cara com Gal Costa no YouTube cantando Ary Barroso. Trilha
sonora mais perfeita “o sistema” nāo poderia me oferecer.
Meu consolo é que o “sistema” pensa que é Deus e é aí que ele se
desmonta. Ele nāo aprende que Deus é o homem, e como tal, é incontrolável e por
isso imortal. Pronto. Já estou eu aqui dando uma de brasileiro puxando lá do
fundo uma esperança.
AQUARELA DO BRASIL (ARY BARROSO COM GAL COSTA)
AQUARELA DO BRASIL (ARY BARROSO COM GAL COSTA)
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