De Cláudio Jorge
Para Claudia Pinheiro
01/09/2016
Amiga Cláudia Pinheiro.
Te escrevo pra dizer da minha tristeza com a partida de meu amigo e de teu amor Cristiano Menezes.
Te escrevo para te contar coisas. Contar que conheci Cristiano em Brasília quando eu atuava com Cartola no Projeto Pixinguinha. Foi durante uma entrevista que ele fez com Cartola e Carlinhos Vergueiro.
Te escrevo pra te contar que estes encontros em Brasilia com Cristiano foram muitos e fantásticos ao longo de outros anos. Foram muitos os lugares e pessoas que conheci através dele, como o Beirute, com direito a festa junina em casa na beira do lago onde conheci alguns de seus amigos jornalistas de Brasília.
Desde aquela época me amarrei no Cristiano ativista, inquieto, sonhador, indignado, trabalhador incansável pelas causas da cultura brasileira, particularmente da música popular.
São muitos os artistas que em início de carreira contaram com seu apoio, de Renato Russo até ao autor dessas mal traçadas linhas, você deve saber disso.
Cláudia te escrevo pra te dizer que minha amizade com Cristiano Menezes foi um longo e delicioso exercício de análise dos comportamentos humanos e da vida brasileira. Eram conversas intermináveis na maioria das vezes regadas a vinho ou cerveja.
Nestas conversas ao longo dos últimos 40 anos costumávamos perder a noção do tempo, a noção de tudo, como naquele dia em fomos juntos a um restaurante japonês. No dia seguinte olhei o recibo do meu cartão de crédito e pensei ter pago a conta sozinho. Depois verificamos que o alto valor de três dígitos era a parte de cada um na despesa.
Outra coisa que gostaria de te dizer Claudia, isso você também deve saber, é que muitos da classe artística brasileira, muitos da classe dos jornalistas e radialistas estão hoje muito tristes com a partida do Cristiano, igual a você e os filhos e a neta de Cristiano.
A grande última realização de Cristiano foi a sua entrega de corpo e alma no projeto de revitalização da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Muitas idas e vindas neste processo sem nunca abrir mão dos seus ideais, muitas vezes batendo de frente, perdendo e ganhando, mas sua marca ficou neste projeto, não só no belo trabalho feito em parceria contigo no livro que conta a história da Rádio, mas também nos programas e produtores por ele contratados.
No meu caso específico, ele foi o responsável pelo meu programa Garimpo ir ao ar na Radio Nacional, ele inclusive é o criador do nome do programa.
Claudia não consegui falar com Cristiano neste último mês. Quando soube de seu estado não imaginei que fosse tão sério, não imaginei nem quis acreditar que chegaria a isso. Fiquei aguardando o tratamento sem ter coragem de falar com ele, com medo de encontrá-lo fragilizado. Vivi isso com Luiz Carlos da Vila, não quis viver isso de novo com o Cristiano.
Cláudia, já tinha me prometido não mais escrever quando perdesse um amigo, mas não dá, é mais forte e, de alguma forma, me ajuda a encarar a pancada.
Mais uma vez não estou no Rio quando acontece uma coisa dessas. Foi assim com meu avô, com minha mãe de Santo, quase com minha mãe carnal que só esperou eu chegar de viagem para falecer. Foi assim com Paulinho Albuquerque e agora com o Cris. Sabe-se lá o que significa isso.
Então é isso Claudia. Deus te dê força. Deus dê força aos queridos filhos do Cristiano Menezes, meu amigo, poeta e botafoguense. O ateu mais espiritualizado que conheci em toda a minha vida.
Lamento não ter dado tempo dele exercer o último ofício para o qual foi contrato pela neta: o de garçom no restaurante que ela vai abrir quando crescer. Beijos.
Para Claudia Pinheiro
01/09/2016
Amiga Cláudia Pinheiro.
Te escrevo pra dizer da minha tristeza com a partida de meu amigo e de teu amor Cristiano Menezes.
Te escrevo para te contar coisas. Contar que conheci Cristiano em Brasília quando eu atuava com Cartola no Projeto Pixinguinha. Foi durante uma entrevista que ele fez com Cartola e Carlinhos Vergueiro.
Te escrevo pra te contar que estes encontros em Brasilia com Cristiano foram muitos e fantásticos ao longo de outros anos. Foram muitos os lugares e pessoas que conheci através dele, como o Beirute, com direito a festa junina em casa na beira do lago onde conheci alguns de seus amigos jornalistas de Brasília.
Desde aquela época me amarrei no Cristiano ativista, inquieto, sonhador, indignado, trabalhador incansável pelas causas da cultura brasileira, particularmente da música popular.
São muitos os artistas que em início de carreira contaram com seu apoio, de Renato Russo até ao autor dessas mal traçadas linhas, você deve saber disso.
Cláudia te escrevo pra te dizer que minha amizade com Cristiano Menezes foi um longo e delicioso exercício de análise dos comportamentos humanos e da vida brasileira. Eram conversas intermináveis na maioria das vezes regadas a vinho ou cerveja.
Nestas conversas ao longo dos últimos 40 anos costumávamos perder a noção do tempo, a noção de tudo, como naquele dia em fomos juntos a um restaurante japonês. No dia seguinte olhei o recibo do meu cartão de crédito e pensei ter pago a conta sozinho. Depois verificamos que o alto valor de três dígitos era a parte de cada um na despesa.
Outra coisa que gostaria de te dizer Claudia, isso você também deve saber, é que muitos da classe artística brasileira, muitos da classe dos jornalistas e radialistas estão hoje muito tristes com a partida do Cristiano, igual a você e os filhos e a neta de Cristiano.
A grande última realização de Cristiano foi a sua entrega de corpo e alma no projeto de revitalização da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Muitas idas e vindas neste processo sem nunca abrir mão dos seus ideais, muitas vezes batendo de frente, perdendo e ganhando, mas sua marca ficou neste projeto, não só no belo trabalho feito em parceria contigo no livro que conta a história da Rádio, mas também nos programas e produtores por ele contratados.
No meu caso específico, ele foi o responsável pelo meu programa Garimpo ir ao ar na Radio Nacional, ele inclusive é o criador do nome do programa.
Claudia não consegui falar com Cristiano neste último mês. Quando soube de seu estado não imaginei que fosse tão sério, não imaginei nem quis acreditar que chegaria a isso. Fiquei aguardando o tratamento sem ter coragem de falar com ele, com medo de encontrá-lo fragilizado. Vivi isso com Luiz Carlos da Vila, não quis viver isso de novo com o Cristiano.
Cláudia, já tinha me prometido não mais escrever quando perdesse um amigo, mas não dá, é mais forte e, de alguma forma, me ajuda a encarar a pancada.
Mais uma vez não estou no Rio quando acontece uma coisa dessas. Foi assim com meu avô, com minha mãe de Santo, quase com minha mãe carnal que só esperou eu chegar de viagem para falecer. Foi assim com Paulinho Albuquerque e agora com o Cris. Sabe-se lá o que significa isso.
Então é isso Claudia. Deus te dê força. Deus dê força aos queridos filhos do Cristiano Menezes, meu amigo, poeta e botafoguense. O ateu mais espiritualizado que conheci em toda a minha vida.
Lamento não ter dado tempo dele exercer o último ofício para o qual foi contrato pela neta: o de garçom no restaurante que ela vai abrir quando crescer. Beijos.
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