Caríssimo leitor, quero
aproveitar este momento olímpico carioca onde nós músicos, cantores,
compositores e arranjadores estamos tendo que dar cambalhotas para sobreviver,
para dividir com você uma reflexão inspirada na lição de superação de limites
que têm acontecido bem aqui ao lado da minha casa, particularmente vindas de Rafaela da Cidade de Deus.
Nas últimas semanas decididamente, e finalmente, aderi as
chamadas “plataformas digitais” para audição e compra de música. Nessa pegada
estou promovendo um natal antecipado presenteando minha coleçāo de CDs para os amigos mais chegados e ainda apegados a essa mídia.
Não sou saudosista, embora
seja um cultuador das tradições, muito pelo contrário, meu precoce envolvimento
com a informática por volta dos quinze anos (aprendi a usar a máquina de
perfurar cartões IBM 029, a programar na
linguagem em Assembler, alguma coisa do COBOL
e operar computadores Burroughs – tudo peça de museu hoje em dia) me leva até
hoje a sempre procurar acompanhar as novidades, o que está cada vez mais
difícil, é uma atrás da outra sem que eu tenha entendido direito as anteriores.
Esse meu processo de
desapego das mídias tradicionais começou quando me desfiz do acervo de cerca de
seiscentos discos 78 rpm que herdei de meu pai. Foi a discoteca básica que formou
meu gosto musical e ia do samba ao jazz, passando por boleros, música
sertaneja, cubana e ritualística.
Acabavam meus casamentos
mas lá ia eu com aquelas caixas todas, tomando o maior cuidado para nāo
quebrar, acomodando tudo em novos armários.
Até que uuma parceria com
o Instituto Moreira Sales fiz uma doação e eles me deram todo o material
digitalizado. No embalo vendi um monte de LPs e doei outros tantos, mas ainda
guardei alguns mais queridos junto com o pick-up moderno que digitaliza os LPs.
Até quando?
O processo foi seguindo
até que eu e a patroa descobrimos um negócio chamado “Smart TV”. Experimentamos
então a experiência do “Bluetooth” para ligarmos nossos “Smartphones”, (calma
leitor, ainda estou escrevendo em português) e o espetáculo do Youtube na TV, o
que nos deu aquela sensação de liberdade da programação dos canais de TV.
Daí pra chegar nas
plataformas digitais foi rápido e o primeiro toque, tardio, foi quando eu e meu parceiro Augusto Martins
fomos a um programa de rádio divulgar nosso trabalho sobre Ismael Silva.
Durante o papo o apresentador nos falava fascinado sobre a sua experiência com
as plataformas.
Eu nāo entendia direito do
que ele estava falando, fiquei com uma certa má vontade, mas sentia que aquele
CD que a gente tinha dado pra ele nāo seria ouvido no carro, muito menos em
casa. A coisa se confirmou quando ele perguntou se o trabalho estava nas plataformas
digitais.
O outro toque veio quando
fiz uma reunião de amigos na minha casa. Nāo precisei pegar um CD para tocar e
animar a festa. Nós tinhamos o universo das plataformas no meu smartphone, eu e
meus amigos com os deles, e cada um foi tocando ao seu tempo o repertório que
gostaria de dividir com os demais.
Meu zen
Há aspectos bem
interessantes nessa nova realidade de compra e audição de música que pode
favorecer aos artistas independentes. A primeira coisa é o barateamento dos
custos. Neste processo evita-se os gastos com a prensagem de no mínimo mil CDs
de venda nāo garantida.
A economia com
adiantamentos das editoras também é um adianto, já que as plataformas se
responsabilizam por esta remuneração.
Isso é importante porque
nāo é fácil nos dias de hoje você recuperar o investimento na gravação de um
disco com a venda de CDs. O CD está cada vez mais sendo considerado um cartão
de visitas de luxo, as plataformas sāo um cartão para o mundo inteiro a custos
bem menores, onde até um voz e violão dá o maior pé.
A facilidade do acesso do
ouvinte aos nossos trabalhos também é interessante. Mande um WhatsApp, uma
mensagem no Facebook, o cara clica no link e já sai ouvindo teu disco novo
enquanto faz as compras no supermercado. Parar hoje em dia para se ouvir música
é raro, está no plano dos momentos de reflexão, meditação, como a música
merece.
Minha observação é que
várias plataformas estão hoje a nossa disposição e a gente sabendo como
combiná-las poderá nos ser muito útil nesse momento em que nāo sabemos para que
lado as coisas vāo. Ficarāo como estāo? Avançarāo ou todo o processo de
gravação de música passará por um retrocesso no plano da profissionalização?
Meu mal
Como nem tudo é perfeito
as plataformas têm problemas. Nāo ter a ficha técnica dos álbuns é lamentável,
mas isso pode ser resolvido através do site pessoal do artista.
A perda definitiva da
experiência com o trabalho gráfico associada ao áudio é outro lamento.
A remuneração é outro
ponto. Assim como o “cinema que é a melhor diversão pra quem faz”, as
plataformas digitais sāo o melhor negócio para quem é o dono. Se eu vender uma
faixa do meu CD no Itunes nāo é nada. Se o Itunes vender uma faixa de cada CD
lá disponibilizado é o bicho.
As questões sobre direitos
de execução ainda sāo pendências, conexos dos músicos e intérpretes então, nem
pensar.
Mas esse é o limão que
temos para nossa limonada neste 2016 e vamos caprichar nela.
Entāo, caro leitor, acesse
sua plataforma preferida e tome contado com os trabalhos produzidos por mim.
Você pode encontra-los todos juntinhos lá no meu site em www.claudiojorge.com
Prestigie a música
brasileira, prestigie o artista independente, prestigie a você, ao seu espírito
fazendo pelo menos a audição destes trabalhos, compre se desejar, mas ouça,
minha inspiração agradece.
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