Nestes tempos de 2015 muitas questões têm vindo a minha porta provocar minha reflexão e opinião.
Neste dia 23 de abril, Dia do Choro, aniversário do São Pixinguinha e dia de São Jorge, me veio a lembrança de meu pai, filho de Xangô, que me deixou boa parte da infância e juventude por conta de minha mãe, tia e avó no que se referia a religião.
Antes de me decidir definitivamente pelo Candomblé, fui batizado e crismado na Igreja Católica quase virando coroinha. Estudei em colégio de padres e, tempos depois, andei por uns terreiros da Umbanda.
Meu nome Cláudio Jorge é fruto de uma promessa. Ao nascer muito abaixo do peso fui desenganado pelos médicos sendo levado para a incubadora e meu pai fez uma promessa para São Jorge pela minha sobrevivência. Como você pode perceber estou aqui a 65 anos e meu nome, que seria Cláudio alguma coisa, virou Jorge em agradecimento a graça recebida.
Ainda menino, fui uma vez com meu pai a missa de São Jorge no Campo de Santana, assim como ele me levou também a uma missa na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, onde conheci o Canhoto, aquele do Regional.
Hoje, quando minha crença religiosa está dedicada ao culto aos Orixás, o sincretismo não tem feito mais parte das minhas observações ou orações. Pra mim Ogum e São Jorge são energias diferentes.
O que não me impede de ser um fã de São Jorge, um devoto agradecido e ter sua imagem em casa.
Na passagem do dia 21 para o dia 22, aqui na Zona Oeste, a meia noite, os fogos pipocaram como se a Seleção Brasileira tivesse entrado em campo.
Ao amanhecer fui despertado com uma queima de fogos que durou uma meia hora.
As 18 horas fui surpreendido com mais uma ruidosa queima de fogos que durou também uns trinta minutos, tipo chegada do ano novo.
Fiquei emocionado em todos estes momentos, me lembrei do meu pai e do Cláudio Camunguelo, que promovia em 22 de abril uma festa para São Jorge.
Meu sentimento neste momento, vendo as estrelinhas dos fogos, os rastros de luz dos foguetes e seus estouros, uns mais fortes outros menos, foi um pensamento voltado para a intolerância religiosa que vivemos no Brasil de hoje.
Confidenciei durante o dia com meu orientador espiritual que eu estava muito preocupado com o futuro dessas relações entre as religiões no Brasil. Há poucos dias uma imagem de N.S. Foi destruída e queimada por evangélicos que ainda tiveram o requinte de urinar na imagem.
Será que caminhamos para uma guerra santa? Será que teremos que ter daqui pra frente seguranças contratados para protegermos Igrejas e Terreiros? Me preocupo com tudo isso é acho incrível e inadmissível que isto esteja acontecendo naquele que na minha infância chamavam de país do futuro.
Mas o pipocar dos fogos em três momentos e em tão grande escala, soou para mim como uma resposta da cidade às minhas indagações e a toda essa intolerância.
Foi como se os fogos estivessem mandando uma mensagem pro Brasil: Muitos de nós somos devotos de São Jorge, o santo da Igreja Católica e da Umbanda, respeitado pelo Candomblé. Nosso Santo é Guerreiro, estamos com São Jorge e São Jorge está ao nosso lado, a nossa frente e retaguarda. Deixem-nos em paz. Salve Jorge!
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