(Cláudio
Jorge – 18/05/2014)
Não, não e
não. Me recuso a discutir se o Candomblé e a Umbanda são
religiões. Não cairei na armadilha de pisar nessa casca de banana jogada na minha
frente.
O que faço
questão de ressaltar é
que, pela sentença do juiz Eugênio,
se não for tomada nenhuma providência responsável,
qualquer um que quiser ofender, agredir fisicamente ou discriminar qualquer pessoa ou entidade no YouTube e
afins, que nāo seja Cristão, Evangélico, Judeu ou
Mulçumano, estará
protegido legalmente pela nova arma da direita, dos preconceituosos,
dos poderosos e da intolerância chamada "liberdade
de expressão".
No embalo dessa
sentença muitas outras poderão vir, atingindo aqueles que fogem
ao modelo do que seria um ser humano exemplar. Isso vale para homossexuais,
negros, mulheres, usuários de drogas , boêmios, sambistas, artistas, gordos, magros, feios, roqueiros,
baixinhos, menores infratores, comunistas, ciganos, anões, todos aqueles que fogem a um padrão que querem
impor ao Brasil a fórceps, desde a abolição da escravatura.
Embora abolida a
escravidão, a cultura dos descendentes dos escravos continua a ser perseguida
e se agora não o é
pelo estado, é pelo estado de debilidade mental
dos que praticam as religiões (religiões?) midiáticas.
Pelo menos quatro
motivos podemos especular para esta sentença do juiz:
Primeiro o extenso e
profundo conhecimento que ele tenha das religiões de origem
africana para chegar a conclusão que elas não são religião. Duvido.
O segundo motivo é a
possibilidade dele ser evangélico ou simpatizante e julgou em
causa própria.
O terceiro é a
possibilidade dele não considerar, não respeitar, não acreditar, não gostar e aí, voltando a época das perseguições policiais, dá
uma sentença condenando uma imensa população
ao vexame de ver sua religião colocada em dúvida no Jornal Nacional, para justificar atos de preconceito,
terrorismo e ofensas as religiões de matrizes africanas. O quarto motivo deixo para o leitor especular.
Aprendi com os mais
velhos do movimento negro americano que o negro sempre deve estar ao lado de
outro negro, em qualquer hipótese, em qualquer situação, mesmo não
concordando com seus atos e pensamentos.
Lá nos
States, num determinado momento,
funcionou. No Brasil nunca funcionou, principalmente porque viemos todos de
lugares diferentes, juntos e misturados nos porões dos navios.
O escravista apostava nesta realidade para manter o comando, impedir um
sentimento de união na base do somos
todos africanos.
Por conta disso,
afirmo que o que o Dr. Eugênio está
fazendo é seguir o exemplo que vem de cima,
lá do Supremo, onde barbaridades estão sendo
cometidas contra a Constituição Federal, contra as leis vigentes, em nome da moralidade. Ah! Ah! Ah! Conta outra.
Acontece no Brasil,
a muitos anos, um processo rancoroso,
violento e autoritário que visa desmoralizar, e se possível, proibir o culto das
nossas religiões preservadas e desenvolvidas no Brasil pelos escravos.
Isso não
vai terminar bem e não podemos permitir que aconteça no Brasil o
que acontece em outros países. Não podemos permitir que aconteça no Brasil o
que aconteceu quando milhões de pessoas foram aniquiladas nas guerras das Cruzadas em nome de
Jesus. Não podemos permitir essa inquisição à brasileira
nas redes sociais, onde somos permanente ofendidos, perseguidos (já aconteceu comigo) e vendo contra nós serem
incitadas pessoas cheias de ódio, querendo nos agredir física e moralmente. Verdadeiros
talibãs da fé.
Decisões
como a deste juiz e as do Supremo, têm provocado no meio dos
magistrados grandes indignações, procure saber.
A propósito, pra encerrar. É
tradicional no meio jurídico a piada
que pergunta a diferença entre Deus e o juiz. Resposta: Deus sabe que não é juiz.
Muitos juízes sabem que não são Deus, graças a Deus, mas alguns têm demonstrado o contrário
e vêm trazendo prejuízos inestimáveis a este país que a séculos luta por uma sociedade plena de justiça. Som nas
caixas. (A minha fé no Candomblé. Autor: Cláudio Jorge) https://soundcloud.com/cl-udio-jorge/a-minha-fe-no-candomble-autor-claudio-jorge
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