Desde que eu era estudante, ainda morador no Cachambi, subúrbio do Rio de Janeiro, que a zona sul sempre me foi um grande atrativo. Naquela época, e ainda hoje, a zona sul sempre foi mais cuidada, mais bonita, mais bem servida pelo poder público, uma vitrine carioca para os que chegam ao Rio.
Copacabana e Ipanema são destaques nessa sedução e qualquer um que aqui chega sucumbe diante da beleza de nossas montanhas banhadas pelo atlântico. Se for verão então, ninguém segura, e junto com a beleza natural vem a beleza da cultura carioca, que gerou um povo formado pela mistura dos nativos com os tantos que por aqui chegaram.
O toque europeu, particularmente francês, na vida carioca é forte mas às vezes imperceptível a olho nu, só com alguns chopinhos acima é que se começa a notar. É na arquitetura, na música, na boemia e por aí vai. Vila Isabel por exemplo: não tem uma rua qualquer, lá é Boulevar 28 de setembro. Chiquérrimo.
Eu sou desde cedo um desses cariocas seduzidos pela zona sul do Rio de Janeiro, desde a época em que meu pai atravessava a cidade com a família para irmos na casa de meu padrinho lá no Leblon, um conterrâneo seu da Bahia. Mais tarde, já adulto fui morar no Humaitá, depois Botafogo, Urca, um retorno estratégico até a Tijuca e finalmente Laranjeiras onde lá se vão quase vinte anos.
Meu primeiro contato mais objetivo com o bairro, fora um chope ou outro no Serafim, foi visitando o meu amigo e parceiro Sidney Miller que morava na General Glicério. Confesso que nessa vinda fiquei achando tudo muito interessante e na primeira chance que tive me mudei pra cá e tive a oportunidade de acompanhar o crescimento do bairro nos últimos anos. Hoje já existe até um “baixo Laranjeiras” ali na subida da Rua Alice, e a quantidade de blocos de carnaval é das maiores para um único bairro.
Mas a história do lugar, que fui conhecendo aos poucos, foi me seduzindo e confesso que, se depender de mim, daqui não saio daqui ninguém me tira. Laranjeiras e Cosme Velho, bairros ligados a história de Machado de Assis a Austregésilo de Athayde, passando pelos Canarinhos das Laranjeiras. De Lima Barreto a Villa Lobos, nascidos na Rua Ypiranga, passando pelo Cerro Corá e pela enorme quantidade músicos, poetas, artistas plásticos e atores que atualmente mora no bairro.
É um bairro de passagem que me é muito útil por fazer a ligação do Bar Getúlio no Flamengo com Lagoa Rodrigo de Freitas. Judeus, alemães, negros, católicos e candomblecistas (minha mãe de santo morava aqui), hoje vivem todos misturados neste vale cercado de montanhas que preservam alguns micos, maritacas e canários, que graças a Deus, ainda insistem em pousar na minha janela volta e meia visitada por um beija-flor.
O Cristo Redentor, que mora no Cosme Velho, continua de braços abertos sobre a região e sua vista vai longe por grande parte da cidade.
A única coisa que lamento é não ter conhecido o Rio Carioca na época em que ele era responsável pelo abastecimento da cidade. Diz a tradição, que suas água límpida era boa para os cantores. Terei que me contentar com a caipirinha de morango da barraca do Luizinho na feira de sábado lá na Glicério. Dá bons resultados também.
Comentários
Nós temos algo de Lima Barreto quanto à origem, mas a questão da ZS realmente seduziu muito de nós.
Não nego o glamour da ZS de cabo a rabo. Mas meu aconchego com as coisas do lado de cá é grande.
Sou cearoca e nao tenho a mesma autoridade que vc tem sobre o Rio,
Agora, vai escrever assim lá na...
bjao irmao
xF
Bela crônica, bela foto.
Realmente, Laranjeiras/Cosme Velho tem algo imponderável que atrai tantos músicos moradores do pedaço. Hoje parece ser o que foi Vila Isabel no tempo de Noel, Ipanema no tempo de Tom Jobim, sem alarde porém.
ROSA MARIA
Já o pobre rio Carioca, melhor não vê-lo. Passa atrás da casa de umas amigas, como uma pequena cascata. Bonita, mas poluída. Em alguns dias quentes, cheirava mal.