Com Zé Paulo Becker, Rogério Caetano e Bebe no Boitatá
Bom, enfim o carnaval acabou e eu engatei logo uma semana cheia de compromissos e não pude escrever antes o que estou escrevendo agora. Ao contrário dos que estão aliviados com o fim do carnaval, eu estou lamentoso. Eu nunca fui um folião, na melhor expressão da palavra, mas sempre gostei de festa, alegria e da trilha sonora que embala os carnavais do Rio de Janeiro, e nesse sentido, meu carnaval dura o ano inteiro.
Este ano de 2011 conspirou, e quando fui ver, tive o carnaval mais intenso da minha vida, trabalhando e me divertindo.
O carnaval agora começa uma semana antes e acaba uma semana depois. Na entrevista que o guitarrista Leonardo Amoedo me concedeu para o Programa Garimpo ele diz que o carnaval no Uruguai dura um mês. Um dia a gente chega lá.
Meu carnaval começou no dia 2 de março, com a minha primeira atuação como músico no salão nobre do meu glorioso Botafogo. Foi no Baile de Máscaras do bloco Spanta Nenén onde o Kiko Horta montou uma orquestra pra animar o evento. Já começou bem o carnaval, ganhando um dindin e morrendo de rir com as fantasias que colocamos no segundo set, bem diferentes dos trajes de gala do primeiro.
No domingo de carnaval ataquei no show do Cordão do Boitatá lá na Praça XV. Inesquecível o trabalho do Kiko Horta, da Cris de todos os envolvidos no Cordão é maravilhoso. É um trabalho que valoriza o carnaval carioca, não só pelo cortejo, pelo desfile do bloco em si, mas também pela música que é executada. Só tem músico bom e o repertório é de primeira. Não é show de música de carnaval somente, mas também a alegria da música no carnaval.
Entre marchinhas e sambas lá se apresentaram Yamandu, o Feitiço do Villa, Tereza Cristina, Pedro Miranda e Mariana Baltar entre vários artistas, entre eles euzinho cantando Ti Eulália na Xiba e um pouptporri de sambas do Caxiné do Salgueiro.
A atravessada ficou por conta do desencontro da Prefeitura com o povo que lá estava. Poucos banheiros químicos e uma tentativa de encerrar a festa às dezesseis horas. O tom grosseiro com que guarda municipal entrou no palco gerou um stress que, graças a Deus, foi logo contornado e tudo correu bem.
Uma rápida passada ali ao lado do aeroporto Santos Dumont para ver as burrinhas do Melo Menezes e me recolhi para no dia seguinte partir para Fortaleza atuar com Martinho da Vila.
Na terça feira de carnaval no Ceará foi aquilo de sempre: show na beira da praia, milhares de pessoas, dessa vez não choveu na hora do show, aquela corrente característica da Família Musical antes do espetáculo e aquela volta para o hotel pra dormir três horas e estar no aeroporto às sete da manhã. É a rotina da vida de músico.
Rio de janeiro, terça feira de carnaval, onze e trinta da manhã cheguei no Galeão e o celular já comendo solto organizando com Marcelinho Moreira e Rogério Caetano a nossa ida pra o desfile do Bloco dos Cachaças lá na Barra.
O Bloco dessa vez atuou na base do concentra mas não sai, por falta de autorização da Prefeitura. Sem autorização não há banheiros químicos e o que nos salvou foi o banheiro do carro de som.
A festa foi maravilhosa com Marcelinho, eu e Mauro Diniz comandando o repertório de sambas e marchinhas, mas de olho no relógio, porque tínhamos que ir para Vila Isabel onde o Bloco Sorri pra mim iria desfilar homenageando Ovídio Brito com uma samba meu e do Marcelinho.
Chegamos na Vila às 19 horas e o bloco já tinha saído. Corremos atrás e nos integramos ao cortejo.
Na volta do bloco para a esquina de 28 de setembro com Visconde de Abaeté nosso samba foi cantado e bem recebido e acho que o Ovídio deve ter gostado e mandado a gente para aquele lugar.
De repente aparece uma quarta feira de cinzas, a Beija flor é a campeã do carnaval, a bateria da Mangueira levou um nove constrangedor e as reclamações sobre as injustiças nos desfiles das escolas de samba foram as mesmas dos últimos vinte anos. Como diria meu amigo Luiz Carlos da Vila, abafa o caso. Não adianta ficar discutindo sobre uma coisa não existe mais.
Terminei meu carnaval de 2011 cantando no Terreirão do Samba no último sábado, dia 12 de março, acompanhado pelos Partideiros do Cacique.
Várias foram as alegrias e lembranças das minhas primeiras idas aquele lugar quando ainda era chão de terra, terreirão mesmo, mas duas delas foram especiais: Assistir Almir Guineto e cantar depois dele, e rever em atuação meu amigo Waltinho, um dos maiores bateristas do Brasil, um dos meus primeiros conhecimentos quando me tornei músico profissional.
Uma curiosidade deste dia foi que antes do show eu e meu parceiro Carlinhos 7 cordas sentamos numa mesa no Terreirão ficamos ali tomando umas. Tava tocando no som um repertório do que há de pior na música brasileira. Músicas dançantes mas com letras absolutamente ruins. Todos cantavam as letras e faziam os gestos de mãozinha pra lá e mãozinha pra cá. Carlinhos e eu ficamos meio desanimados, preocupados com o futuro do gosto popular. Aí começou o show com os Partideiros do Cacique: “Nunca mais ouvi falar de amor...”, com eles cantando o samba Saudade louca de Arlindo Cruz, Franco e Acyr Marques. Caiu a energia elétrica e o som parou, mas o povo cantou o samba todo até o final. Os partideiros do Cacique continuaram acompanhando a platéia, sem som, e quando ele voltou estavam todos no mesmo trecho da música. Foi lindo e animador. O povo é tudo, sabe de tudo, canta de tudo. O povo é maravilhoso.
Uma latinha para baixar a euforia depois de cantar e volto pra casa onde encontro a Mangueira na televisão no desfile das campeãs. Meu Deus do céu! Que absurdo cometeram contra a bateria da Verde e Rosa, mas tive o prazer de ver os comentaristas da BAND falando sobre isso, fazendo um verdadeiro trabalho jornalístico sobre o desfile, da melhor qualidade, e aí terminei meu carnaval com aquela sensação de que não está tudo perdido. Temos o povo brasileiro e temos imprensas alternativas que não estão focadas apenas nas estrelas da TV, nos turistas, nos efeitos especiais. Se na TV o sábado de carnaval é o show do plimplim , no desfile das campeãs é o show do samba. É só espalhar mais banheiros químicos pela cidade e aí fica tudo certo.
Mas meu carnaval só acabou mesmo no domingo quando fui assistir o encerramento da temporada do “É com esse que eu vou.”. Maravilhoso, tudo lindo, só vendo. Quando voltar a cartaz não perca.
Existem várias imagens em vídeo do meu carnaval de 2011. É só ir na internet em www.youtube.com/claudiojorgevideos que você poderá assistir alguns deles.
Bom, daqui pra frente é curtir os novos sons, como o que eu levei fazendo uns arranjos para umas músicas do Wilson das Neves no disco d' Os Ipanemas, e o trabalho que estou desenvolvendo com meu amigo Leonardo Amoedo. Dou notícias.
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Beijos carinhosos!