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Obama nas alturas


Quatro de novembro de 2008. Neste dia em que o mundo ficou sabendo que o povo americano mudou, fiquei acordado esperando para ver o Barack Obama fazer seu discurso de vitorioso. Não agüentei e fui dormir, louco pra chegar de manhã e ver se o dia iria amanhecer diferente. Uma vez acordei às seis da manhã para ver o Bush acabar com Bagdá. Naquele dia o mundo também mudou com o som dos bombardeios sufocando o canto dos pássaros ao amanhecer.

Anos antes eu estava na Ilha do Sal em Cabo Verde e acordei com o volume da televisão mostrando o ataque de onze de setembro. Naquele dia o povo americano mudou e todo o mundo mudou junto.

Eu já pressentia que seria possível o  Barack Obama ganhar essas eleições só não sabia que milagre ia fazer isso acontecer.

Afinal, os negros nos USA são minoria, pouco mais de 12% da população. Todo negro que se atreveu a romper a linha do comportamento e liderar movimentos, foi assassinado, além da convivência com o terrorismo das Klu Klux Klans da vida, ou da morte, melhor dizendo.

Por outro lado, a sedução que o Barack exerceu sobre quase todo o planeta foi uma coisa incrível. Pela primeira vez a expressão "Presidente do Mundo" se encaixa de forma exata. Quase todo mundo torceu por essa vitória.

Estava quieto no meu canto vendo todo os jornais da TV, curtindo esse momento que estou tendo o prazer de assistir, quando abro meus e-mails e encontro meu amigo Itamar Assiére querendo saber a minha opinião sobre isso tudo.

Eu estava pensando em fazer isso mais tarde, com calma, analisando os fatos, a história. Refletindo antes sobre essa incógnita que sempre me acompanhou de não entender, de não aceitar o porque  dos povos africanos e seus descendentes terem uma vida tão complicada nessa passagem da humanidade pelo universo.

Eu vou fazer  toda essa reflexão depois, mas para não deixar meu amigo esperando, lá vai.

Puta que pariu!!!! Caramba!!!!!!! Finalmente um negro na presidência de uma grande potência mundial.

Viva a mãe americana e o pai queniano do Obama que passaram por cima dos preconceitos para viverem um amor e dele nascer o fruto ontem eleito presidente.

Viva o novo povo americano nascido da mistura de tantos seres humanos diferentes que para aquelas terras têm se dirigido.

Viva a todos os ativistas do planeta que não desistiram de acreditar que o mundo pode ser melhor. Viva nossa esperança. Viva a humanidade das ruas que finalmente manifesta para os velhos dirigentes seu desejo de conviver em paz com as diferenças.

Viva os eleitores americanos que passaram por cima da cor da pele do Obama e o elegeram o chefe daquela nação.

É isso o que está mais me comovendo hoje. Não foram os  doze por cento de negros da população que elegeram Obama. Foi o povo americano como um todo, depois de um curto processo que levou quarenta e quatro anos entre a conquista dos direitos civis por parte dos negros e a implantação de  ações afirmativas. Isso é o que faz um país ser uma Nação.

Nada acontece por acaso. Um dos motivos que me levou a achar que o Obama era o cara foi a quantidade de filmes americanos que nos últimos anos têm sido protagonizados por atores negros no papel de presidente. O ambiente veio sendo criado aos poucos, porque os USA apostaram antes na potencialidade dos seus minoritários cidadãos negros. Antes do Presidente já foram eleitos senadores, governadores. Formaram-se médicos, executivos, classe média negra alta, artista e atletas aos montões, apresentadores de TV, generais, seriados baseados nas famílias negras, enfim, a minoria negra americana existe de verdade e faz parte da fotografia dos Estados Unidos.

Enquanto isso o Brasil, o país com a maior população negra e mestiça do mundo...

 

Comentários

Alan Romero disse…
Salve Cajó!
Belo texto, parabéns! Também estou aqui feliz, aliado nas bebemorações.
Um detalhe que me surpreendeu foi ler nas memórias do Obama que sua mãe começou a se encantar com os negros quando viu o filme... Orfeu Negro! Pouco depois, ela mudou-se com a família para o Havaí. Lá, num ambiente menos segregador, ela conheceu o Obama pai, e certamente a memória do filme desempenhou a sua influência no romance. Obama comenta que uma vez, já ele adulto, a mãe botou o DVD do filme para rolar numa de suas visitas. Ele não achou nada especial, mas ficou fascinado com o semblante de sua mãe que curtia o filme intensamente... Recordar é viver! hehehe
Essa história em si já daria um filme, não é mesmo?!
Abração, mano véi.
Unknown disse…
Cláudio, realmente nada acontece por acaso, e voce provou isso com seu artigo "Obama nas alturas".
Acompanho seu blog já faz um bom tempo, voce está sempre comentando, analisando e falando de assuntos de interesse para todos, principalmente para nós, negros. Acredito que a eleição de Obama para a presidência dos EUA pode ser o inicio de grandes mudanças e avanços em relação aos preconceitos de todas as formas, à maneira como os EUA vão se comportar e se ver, e de como serão vistos por todo o mundo de agora em diante etc, tenho fé que muitas mudanças virão e espero que muitas dessas mudanças favoreçam não só o povo norte-americano em particular e no geral, mas que também possam ajudar a melhorar um pouco as coisas para todos nós, do resto do mundo, já que de certa forma esses gringos lá de cima sempre se acharam os donos do mundo.
Meu amigo, esse blog está cada dia melhor e voce com esses seus artigos sempre na mosca e sempre de grande interesse mostram que voce além de um músico da maior qualidade, está se tornando também um grande cronista.
Tenho aqui em casa vários discos, isto é, CDs em que voce mostra seu talento como músico, compositor e cantor (em alguns deles eu até participo com engenheiro de gravação), agora estou esperando receber o convite pro lançamento do livro (já arrumei até um lugar na estante prá colocá-lo).
Um forte abraço, Loureiro.
Roque de Laraia, em seu livro "O Que é Cultura?" - editora Zahar, afirma no seu primeiro capítulo que todos os homens são iguais, o que irá distinguir é a cultura. isso me causa uma reflexão. Se somos os mesmos seres porque o que é diferente causa rejeição ou preconceitos sem fundamentos. Barack Hussein Obama II é um novo divisor de águas. Um povo como o americano, que por paranóias sempre rejeitaram aos que fossem diferente do American Way of Life, fossem perseguidos, humilhados ou negado a sua existência em solo americano. Obama, é a síntese da mudança ou a parte inicial dela, com a sua pontual e firme campanha, sua capacidade intelectual que em nada deve aos que se julgam donos do poder. Obama renasce como um novo Mandela e deverá ser a base de quebrar o que chamamos de Apartheid Oculto Culto (sem trocadilhos) pois a cultura criada por alguns americanos de que um negro seja inferior, estará começando a terminar. A busca pelo bode expiatório dos islâmicos que dizem ser os terroristas deverá acabar. Em nada me convence que muçulmanos sejam terroristas criticados pelo Bush (dono de grandes empresas de petróleo, envolvidas em escândalos diversos) e com desculpa de inflarem preconceitos contra o povo islâmico, árabe e porque não negro! Barack filho de islâmico e cristã é mais que uma esperança, é a bandeira do respeito e da dignidade. A procura pelos jovens americanos em apoiá-lo é nada mais do que a esperança de que os Estados Unidos deixe sua prepotência e preconceitos de lado. Se Deus, ao qual sabemos sua existência, mas jamais sua aparência seja de cor nenhuma, de religião nenhuma, de sexo nenhum, de nacionalidade nenhuma. Deus é Deus, e o Homem que se diz sua imagem e semelhança não pode traçar o que é padrão, desprezando nuances(raça só existe a Homo Sapiens Sapiens), credos, nacionalidades apenas por conta de cultura barata. Lech Valessa lutou contra a tirania, Mandela lutou contra a opressão, Lula Operário teve seu momento e porque não Barack! Se Collin Powell e Condolezza mostraram seu talento, os Estados Unidos e o mundo agora tem um novo Zumbi, que resplandece do Quilombo Mundial. Vida Longa a Obama, aos negros, aos amarelos, aos brancos, aos azuis, aos verdes, aos rosas...
Anônimo disse…
É isso aí, grande Cláudio. Alguma coisa mudou e dessa vez, finalmente, dessa unica vez, nos últimos tempos, parece que pra melhor. O discurso do cara foi bonito mas não messianico... Real, me amarrei. Foi bacana com os inimigos, se alinhou às minorias e falou das coisas que, ultimamente, fizeram dos EUA um país tão odiado, leia-se "filosofia - ra ra ra, me desculpe Platão - Bush": belicismo, política "big stick" e total desprezo pela necessidade de olhar o planetinha com outros olhos, ter cuidado com nossa Terra.
Estamos aqui super na torcida por Obama e pedindo a todos os deuses, orixás e cia que não conceda aos loucos wasp radicais a possibilidade de eliminação como fizeram com Luther King e outros. Obaminha devia aproveitar esses dias e pintar por aqui pra dar uma fechada legal no corpo er confirmar seu santo, plantar um axé bacana num Ilè firmeza para que isso não se repita. (Toc toc toc) É isso aí, irtmãozinho... salve Obama e "obamo"nessa!

Ps: e antes que eu me esqueça... Salve também o grande LC da Vila a essas alturas tocando a maior alegria no Orun... Oni Bejada, da Vila, isso aí nunca mais vai ser o mesmo contigo na área!

Abraço, Claudinho, sempre te leio aqui, muita inteligencia e sensibilidade... até quando fala do Botafogo! >;o)

Juca
Moacy Cirne disse…
Antes de tudo, grato pela visita ao Balaio. Sempre gostei da poesia de Vivi. Mas, no vídeo da Makeba, eu não tinha percebido que Sivuca aparecia ao fundo. De resto, como você, também vibrei com a vitória de Obama. Dei uma geral no seu blogue: é coisa fina, pra se ler com atenção. Ou seja: voltarei, claro. Um abraço.
Anônimo disse…
vou dando aqui meu aval, claro que na maior humildade. Maravilha sua colocação e clareza nesse texto, ---olha o Obama aí gente!!

abraço Cabral
Xico Teixeira disse…
Querido amigo Claudio Jorge,
Parabéns! texto muito bom de se ler. Conteúdo e contexto impecáveis. Não podia esperar outra coisa desse ilustre botafoguense, da Vila e músico exemplar.
Osana, Obama!
Saudades de suas crônicas na rádio, feliz por ter você de volta (em breve) na caixinha com a gente!!!

Grande abraço

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