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Reflexões sobre Pequim

Acompanhando o final das olimpíadas onde o Brasil, mais uma vez, conquistou pouquíssimas e valiosas medalhas, foram inevitáveis aquelas reflexões que fazemos de olimpíada em olimpíada.
Diz a lenda que a Baby Consuelo excursionando pelo nordeste se viu num sufoco com a sua banda quando o ônibus enguiçou no meio da estrada. Nessa época a cantora estava em pleno exercício da filosofia do “RA!” e não pensou duas vezes em usar essa energia para fazer o motor do ônibus pegar.
Então foi aquela cena com ela mandando ver: - Vamos lá gente, todos juntos, concentrados e com fé. Um, dois, três e RAAA! Mais uma vez. Um, dois, três e RAAA!
Depois de várias tentativas sem nada acontecer, ouviu-se a voz do motorista lá na frente.
- Minha gente, se não empurraaaaaaaaaaa, num vamo sair daqui não.
Me lembro de uma piada das antigas que conta a história de um campeonato de sexo no Estádio do Maracanã. Os caras vinham e traçavam no gramado aquela quantidade absurda de mulheres até que um, mais espada que os outros, atingiu a extraordinário número de trezentas trepadas. Ovacionado, ídolo da rapaziada, o matador partiu para a marca olímpica de trezentas e uma gozadas. Não deu, brochou e o Maracanã lotado gritou bem alto: Viado! Viado! Viado!
Acho que essas duas estórias resumem bem o espírito do Brasil em relação às olimpíadas.
Achar que só a força de vontade de nossos atletas vai trazer o ouro é um misto de inocência e de maldade terrível. Na ausência de uma política social que invista na prática de esportes de competição, vai se deixando por conta dos sonhos individuais de cada um a possibilidade de conquista de uma medalha aqui e outra ali.
O ditado do interior diz que a necessidade faz o sapo pular. Estes nossos Joões do Pulo e agora a Maureen Maggi vêm fazendo isso ao longo dos anos na maior ralação, enfrentando as maiores dificuldades e tudo mais. Conquistam as medalhas, sobem ao podium e daqui há alguns meses ninguém fala mais nesse assunto. O choro compulsivo de nossos atletas medalhistas no podium do Ninho do Pássaro revelam um pouco do drama que cada um viveu para chegar até ali. Essas medalhas são mérito exclusivo deles, de seus treinadores, familiares e pessoas que ajudaram. Não é um mérito do Brasil.
Acho essa realidade muito cruel. É a mesma que valoriza o “sambista que passa o ano inteiro esperando para desabafar no carnaval seu sofrimento” enquanto a rapaziada fica tomando Prosecco nos camarotes.
As chamadas “meninas do futebol” fizeram milagre na conquista da prata. Elas enfrentaram na final um gigante organizado, cheio de auto-estima e investimentos. Essa medalha por dentro é de ouro porque foi a vitória da garra, da força de vontade, do patriotismo e da necessidade delas. Não é a primeira vez que eu ouço a Marta dizer que é uma pena que não tenhamos conseguido o ouro porque isso iria sensibilizar as pessoas no Brasil em relação ao futebol feminino e tal.
Meu Deus! Será que duas pratas e esses desabafos das jogadoras não são suficientes para que as autoridades e empresários abracem a causa? Infelizmente não são, assim como o ouro quando vier também não o será.
O Brasil é o país que não ajuda os brasileiros, por isso talvez sejam tantos os que estão partindo. Cinco milhões nos dias de hoje vivem fora daqui.
É como me disse um motorista de táxi, militar da reserva: um pais de duzentos milhões de habitantes e tanto talento por aí desperdiçado por falta de incentivo e de apoio.
Cuba, que muita gente insiste em dizer que é um desastre, por muito tempo esteve lá nos primeiros lugares em medalhas disputando com USA, Rússia e outros.
Por quê? Os cubanos têm mais força de vontade que os brasileiros? Cuba em algum momento foi um país mais rico que o Brasil? Nenhuma das respostas anteriores.
O que há nestes paises é a vontade política de se investir em esporte, em cultura, sem a atitude irresponsável de deixar essas questões por conta do mercado.
Fui falar em cultura e aí esse papo vai render. Vamos deixar pra outra crônica.
Beijin, Beijin, tchau, tchau.

Comentários

Eugenia disse…
Excelente texto, amigo. Endosso cada palavra. E... RÁ!!!! :)))
Unknown disse…
Excelente texto, e digo mais deveria ser enviado para toda essa classe jornalistica que fica metendo malho em nossos atletas e acredito eu a maioria deles nem peteca deve saber jogar.
A realidade de Pequim é mais dura. Entramos com uma equipe bem patrocinada, mas que esqueceu uma característica brasileira que é ser humilde e lutar pelo esforço. Ao invés disso percebeu muito "já ganhou", "somos os melhores", "time dos sonhos"...A maioria ganhou um torneio relevante, mas esqueceram que a Olimpiada é um evento importante até mais que uma Copa do Mundo ou um Torneio local. Vencer no PAN é uma coisa, com a torcida cobrando como ocorreu com os chineses.

Ah, vale uma dica. O nome do país não é China e sim algo como Tchon Kuô que romanizado fica complicado. Significa "Terra ou País do Meio". Então por que China? Romanos que faziam comércio de tecidos se referenciavam pelo Imperador Amarelo, ou seja Shi In Huang Ti. Logo Imperador (Shi In) ficou sendo chamado como SINA no latim nobre e CHINA no latim vulgar. É a mesma coisa quando tentariam pronunciar o nome Yehoshuah ou Joshuah que eles simplificaram como IESUS (Jesus com J é uma invenção da Idade Média ao prolongar o I como J no inicio de algumas escritas.).

Abraços.
Marco Antonio Aguiar Santos (aguiarsan)
Olá
Sou estudante de Jornalismo e amante da cultura .
Gostei das suas idéias , dá uma passada no meu blog, se puderes :
http://www.orquestracultural.blogspot.com/
A JORNADA DO JORNAL
DIURNALIS, PANIS ET CIRCENSIS

Uma grande estudante de jornalismo, Daniela Canto, e possivelmente uma grande jornalista me pediu para visitar seu blog. Depois de ler um comentário que fiz no blog do mestre Cláudio Jorge sobre a China. Assim ao perceber que ela é estudante de jornalismo, achei curioso pelo mesmo momento estar ouvindo uma música de Françoise Hardy, e veio a palavra jour, que em francês quer dizer “dia”.

Jornal, jornalismo, jornalista...jour. Enfim lancei em meus alfarrábios analógicos e digitais (cadernos e computador) e me lembrei de ter em algum havia anotado alguma coisa sobre jornal. Eu ensino a garotada a montar jornais com computador usando aplicativos de texto. Daí vamos explicar algumas curiosidades sobre o jornal e termos derivados deste nome.

Estamos em Roma, lá pelos tempos de César e o idioma do Lácio (Látium) era o latim. O Lácio é a região onde se situa a capital do mundo naquela época. Os romanos chamam o dia de “dies” ou no singular “diem”. Quando se junta o sufixo “urnus” denota o momento do dia (dies+urnus = diurnus – Basta lembrar que o tempo do inverno em latim é hibernus, daí hibernar e a palavra inglesa (?) winter).

Mas retornando a Roma antiga, era comum uma pessoa ficar no Fórum, uma praça copiada da ágora grega, de informar aos cidadãos sobre os atos dos governantes, quando não muito falar mal de alguém ou anunciar alguma coisa de interesse romano. Isso acontecia quase diariamente, ou como diria em latim “diurnalis” (diariamente). Assim, com as conquistas romana em quase toda a Europa, não impediu que o latim de Roma não ficasse vulgarizado nas províncias e surgissem novas pronúncias para dies e diurnalis. Quando não muito, alguns povos “bárbaros” como os germânicos ou “civilizados” como os gregos mantiveram suas pronúncias dentro dos seus dialetos. (Em alemão ainda mantém-se tag < leia-se ”tak”> e em grego iméra ou méra, mas o restante tudo começa com a pronuncia de Roma.

A relação do “dia” e do “jornal” começaria depois. A colocação de “diurnalis” como algo que passasse todos os dias, começaria a ser impresso muito tempo depois, embora isso seja outra história. Vamos ver como isso acontece entre outros idiomas mais falados.

Dia em alemão é TAG, mas jornal em alemão é ZEITUNG (leia TZAI-TUNK), afinal ZEIT significa “tempo”. Do alemão gerou-se DAG para a Escandinávia e Holanda. Em italiano, a pronuncia de Diurnalis ficou, mas sua escrita ficou como “giornale” afinal, a língua italiana atual deriva do dialeto toscano falado em Florença ou Fiorenze, região da Toscana, um pouco distante da Roma dos césares.

A influência celta afetou a forma falada e escrita também de dia e jornal nos países ibéricos como Portugal e Espanha. Em português dies virou dia e diurnalis virou jornal. A mesma grafia em espanhol, apenas com um acento agudo em día. A coisa mais louca é a língua inglesa, por exemplo usa-se DAY (origem latina) e algumas vezes MORNING (origem celta-anglicana). Mas o inglês pela forte influencia latina, primeiro pelos romanos ao mencionar DIARY e depois pelos ataques franceses deu a eles a variante francesa JOURNAL. Embora o idioma inglês adote o termo “NEWSPAPER” ou Papel de Noticias, mas surgiu depois da imprensa de tipos móveis ter sido aperfeiçoada por tio Gut. (Perdão a intimidade com Guttenberg).

Quando se fala Jornal, Jornada, Dia, Diurno, Diurnal (português arcaico) e outros didi da vida, pensamos que isso é um fato diário (sem trocadilhos) e que a função deste meio de comunicação não é só a proclamação de fatos cotidianos, mas também de registros históricos, de conclamação, etc. O jornal é além da fonte de informação, ele é a voz de todos, de um povo, de uma História ou mesmo entretenimento. Diurnalis, Panis et Circensis.

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