Em 1980, no finalzinho da ditadura, gravei meu primeiro disco pela gravadora EMI-ODEON. Uma das faixas você ouve aqui “Dia da Criaçāo”.
Ela foi composta em pleno regime militar, no tempo da censura.
Me lembro da emoção que tive em Recife quando do lançamento do disco por lá. Saindo para um mergulho de domingo numa Boa Viagem lotada, ouvi num táxi com a porta aberta parado na porta do hotel, o som da minha canção tocando no rádio em alto volume.
Estávamos em tempos de “abertura” e cinco anos depois assistiríamos o fim daqueles tristes tempos.
Hoje, em 2016, vivendo os primeiros dias do governo interino de Temer, e sabendo de seus primeiros atos extinguindo os Ministérios da Cultura e o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos me lembro dessa canção que eu achava ser “datada”, e portanto, sem nenhum significado ou função quarenta anos depois.
Ledo engano. Eis que minha inspiração de juventude ressurge das cinzas e traz junto a clareza de que os ideais da minha geração sāo metas que nāo veremos serem realizadas de forma definitiva, consolidada. Os jovens de hoje talvez assistam na sua maturidade. Nossos netos, com certeza. Chegará uma hora em que os ciclos de usurpação do poder se esgotarão.
Sempre nos meus palpites políticos nas mesas dos bares do Rio de Janeiro, desde a eleição do Lula, defendi que no Brasil nāo havia democracia, principalmente pela minha referência de descendente de escravos que nāo acredita em cidadania se nāo houver uma presença proporcional de negros e povos indígenas nos centros de decisão do poder, nos postos de comando, na foto do Brasil, enfim mas essa é uma longa conversa.
Dedico então este “Dia da criação” a todos os meus colegas músicos e artistas de um modo geral. Aos do passado, aos do presente e aos do futuro.
Ela foi composta em pleno regime militar, no tempo da censura.
Me lembro da emoção que tive em Recife quando do lançamento do disco por lá. Saindo para um mergulho de domingo numa Boa Viagem lotada, ouvi num táxi com a porta aberta parado na porta do hotel, o som da minha canção tocando no rádio em alto volume.
Estávamos em tempos de “abertura” e cinco anos depois assistiríamos o fim daqueles tristes tempos.
Hoje, em 2016, vivendo os primeiros dias do governo interino de Temer, e sabendo de seus primeiros atos extinguindo os Ministérios da Cultura e o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos me lembro dessa canção que eu achava ser “datada”, e portanto, sem nenhum significado ou função quarenta anos depois.
Ledo engano. Eis que minha inspiração de juventude ressurge das cinzas e traz junto a clareza de que os ideais da minha geração sāo metas que nāo veremos serem realizadas de forma definitiva, consolidada. Os jovens de hoje talvez assistam na sua maturidade. Nossos netos, com certeza. Chegará uma hora em que os ciclos de usurpação do poder se esgotarão.
Sempre nos meus palpites políticos nas mesas dos bares do Rio de Janeiro, desde a eleição do Lula, defendi que no Brasil nāo havia democracia, principalmente pela minha referência de descendente de escravos que nāo acredita em cidadania se nāo houver uma presença proporcional de negros e povos indígenas nos centros de decisão do poder, nos postos de comando, na foto do Brasil, enfim mas essa é uma longa conversa.
Dedico então este “Dia da criação” a todos os meus colegas músicos e artistas de um modo geral. Aos do passado, aos do presente e aos do futuro.
DIA DA CRIAÇĀO (Cláudio Jorge)
Ontem sonhei com vocês
Vi trovadores chorando
Um palco sem atores, nada se ouvia
Um jornal que tinha folhas mas nada se lia
Eu perguntei: Arlequim, porque ficou tudo assim?
Acabaram com a praça, com o palco, com a vida
Eles disseram que o amor é coisa proibida.
Vi trovadores chorando
Um palco sem atores, nada se ouvia
Um jornal que tinha folhas mas nada se lia
Eu perguntei: Arlequim, porque ficou tudo assim?
Acabaram com a praça, com o palco, com a vida
Eles disseram que o amor é coisa proibida.
É nossa a decisão, cantar ou nāo cantar
Deixar correr e tudo acabar
Mas mesmo sem o som, palavras e pincéis
Nossa lágrima há de criar
Poeira que vai com o vento em outro lado cai
Deixar correr e tudo acabar
Mas mesmo sem o som, palavras e pincéis
Nossa lágrima há de criar
Poeira que vai com o vento em outro lado cai
Ontem sonhei com vocês, havia uma festança
Na Praça Tiradentes, foguetes, pipoca
A felicidade há de tocar nossa porta
Na Praça Tiradentes, foguetes, pipoca
A felicidade há de tocar nossa porta
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