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Ao povo do gueto.


Domingo de sol, aquela caminhada light pelo bairro, um suco de laranja e a parada em baixo de uma sombra pra prosear com a patroa. Me baixa aquele momento de reflexão filosófica observando o ir e vir dos pássaros de galho em galho e os sons incríveis da natureza em volta. Antes despercebidos, se fazem presentes com volume de ápice de orquestra sinfónica na Sala Cecília Meireles. 

Penso então, aproveitando o fato de estar aqui pertinho, que as primeiras conclusões das obras olímpicas são a confirmação de que o Brasil de dois anos atrás não existe mais. 
Não foi uma coisa que mudou de repente, foi aos poucos e já venho com essa observação a algum tempo, com a certeza de que a martelada final do leilão se dará no Senado Federal ao fim do mês de agosto de 2016. 
Entre um cachorro de madame e outro que passa preso a coleira, de sapatinho para não sujar as patas, penso que o Brasil moderno está me colocando em choque (eu queria escrever "cheque", mas o corretor me empurrou "choque", tudo bem também). 
Sinto que a pergunta da atual realidade brasileira para mim é a seguinte: você vem com a gente para "mundo maravilhoso" que estamos lhe oferecendo ou vai ficar à margem, por fora, por baixo, preso aos seus desejos, as suas preferências, aos seus prazeres, as suas raízes, as suas utopias enfim. 
Vejo uma boa parte da população caindo de boca, embarcando de antolhos e orelhas moucas numa droga consolidada cada vez mais a cada dia e que tem como maior objetivo o controle das massas e num segundo momento o lucro. Droga que não vem em forma líquida, em forma de folha ou em forma de pó, mas que também causa efeitos devastadores. 
Corta a cena, volto pra casa, aquele cochilo no sofá pós almoço e sou acordado com uma propaganda na TV me convocando a votar no Prêmio Multishow visando escolher a melhor música do ano. Concorrentes: Jorge & Mateus, Nego do Borel, Jota QuestLuan Santana e Ludmila, com suas respectivas canções. 
Caraca! Que decisão difícil, mas não vai ter jeito. Alô gueto!!!  chegando!!! 

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